domingo, 30 de agosto de 2015

“Zorra”: Versão repaginada sepulta atração popular, mas pega carona no título que manteve o humorístico 15 anos no ar


Assistindo ao “Zorra’, ex-” Zorra Total”, exibido nas noites de sábado da Rede Globo, fico pensando: o que levou a nova direção da atração ou da emissora a acreditar que pelo simples fato de tirar o Total do título justificaria transformá-lo em outro programa sem assumir que realmente trata-se de outro programa? Sim, porque se trata de outro produto. Não adianta dizer que é a mesma “Zorra” repaginada. É como se repaginassem “A Praça É Nossa”, do SBT, colocassem alguém no lugar do Carlos Alberto de Nóbrega sentado em uma cadeira qualquer em uma praça de alimentação de um shopping e mudassem o nome do programa para “A Praça”. Não deixaria de ser uma praça, mas seria outra atração, voltada para outro público, certo?

O programa que ainda trazia o cunho de prestar um serviço a artistas da antiga como fazia a “Escolinha do Professor Raimundo”, comandado por Chico Anysio, que, por ter feito parte da turma que construiu a televisão brasileira não desamparava quem ajudou a construir essa indústria, perdeu totalmente sua identidade. Não importa se agradava a gregos ou a troianos. A alguém agradava, ou não estaria há 15 anos no ar.

Aí, mudam tudo, tiram de cena atores da antiga que tinham ali um refúgio para suas velhices totalmente desamparadas e transformam o único programa popular que restava na emissora num arremedo de “seriado de comédia” metido a humorístico com tiradas hiper-inteligentes e mega-antenadas, feito somente para gente de uma determinada patota sacar o tom da sutileza da ironia.

Veja bem, não sou contra a nova geração de comediantes que invadiu o horário. Nem questiono o emprego dessa turma enorme de redatores para fazer um programa semanal. O que eu estranho é o fato de a emissora dispensar dessa forma quem estava lá há mais de uma década carregando nas costas um título que se manteve por ter forte apelo junto aos telespectadores e aos anunciantes. Será que neste formato atual, com esses “novos” comediantes vai segurar mais uma década e meia no ar? E se não segurar nem um ano no ar, será que vão assumir que foi essa nova trupe que não agradou ou vão “dividir” a culpa com os verdadeiros integrantes do “Zorra Total”, o original, que restaram?


Mais "Zorra Total" em:
http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2014/09/zorra-total-mais-enxuto-programa.html

sábado, 29 de agosto de 2015

“Babilônia”: Constrangedor, final não merece crítica e reações mostra que público não se deixa mais enganar com situações surreais



Se alguém suspendeu os jardins da Babilônia, com certeza não foram os autores da novela das nove da Rede Globo que chegou ao fim nessa sexta-feira (28). O último capítulo foi tão constrangedor que nem merece uma crítica. Mas reação nas redes sociais serve como alerta para autores em geral saberem que o público não se deixa mais enganar facilmente com situações que não correspondem à realidade. Por mais liberdade poética que exista, é triste, é quase cruel para quem se dedica a tecer análises sobre obras da teledramaturgia deparar-se diante de um desfecho que foi a pá de cal para uma novela que nunca foi o que nem ela própria se propunha a ser.

Aí se apegaram nesse papo de que a história se perdeu porque houve uma rejeição a um beijo gay entre senhoras da terceira idade e que tiveram que mudar os rumos da história. Ah, por favor... Essa desculpa está tão esfarrapada e a prova de que não condiz com a realidade está no fato de que o público aceitou, sim, a relação entre Ivan e Sérgio. E olha que nessa relação não existia apenas o fato da homossexualidade, mas também a questão racial, já que Ivan é negro e veio da favela.

Chega de dizer que o telespectador é que é racista, preconceituoso ou outro “adjetivo” mais que sirva de argumento para justificar o fracasso de uma novela que não agradou desde a primeira semana no ar. Não agrada uma trama que não conte uma história com os elementos que realmente tragam uma mensagem que toque no emocional do telespectador, mas que não seja um emocional babaca. Tem que traduzir a realidade, mas sem ser um telejornal. Tem que ter dramaturgia, mas sem ser um “Linha Direta”.

A audiência é feita de gente de todas as cores, todos os credos, todas as condições sexuais. A audiência é feita de gente. Pura e simplesmente assim! Essa falta de identidade do público com as obras que têm sido exibidas não é de hoje. A saída para isso? Por favor, escrevam histórias para gente como a gente e o resultado será outro. Deixem de lado essa preocupação de colocar acima de tudo a preocupação em defender bandeiras para provocar polêmica pura e simplesmente. O tiro pode sair pela culatra. Se quiserem, podem até fazer sessão de análise no momento da criação. Mas deixem seus talentos de escritores fluírem com base no universo geral que existe à sua volta e não apenas dentro de suas coberturas. E, por favor, não tentem fingir conhecimento sobre um universo que está longe de suas realidades e sobre o qual não pesquisaram com profundidade. O tal “laboratório” não serve apenas para atores, deve ser lição de casa para autores também.



Mais "Babilônia" em:
http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2015/04/sobre-teledramaturgia-nao-adianta.html 

terça-feira, 25 de agosto de 2015

“Malhação – Seu Lugar No Mundo”: Nova temporada traz temas atuais, dramas adultos e jovens afinados na interpretação


Em sua vigésima terceira temporada, “Malhação” galga mais um degrau no amadurecimento que vem mostrando pouco a pouco nesses 20 anos no ar. Não por menos o autor atual é Emanuel Jacobina, que também escreveu as histórias que foram ao ar entre 1995 e 2001 e entre 2010 e 2011. Os alunos cresceram, e Jacobina mostra que acompanhou esse crescimento com um olhar atento e uma sensibilidade aguçada. “Malhação – Seu Lugar No Mundo”, que estreou há uma semana, na segunda-feira (17), está longe de ser mais uma história focada no umbigo de jovens novatos protagonistas sedentos por atingirem o estrelato dentro e fora da ficção.

Quando assisti ao primeiro capítulo pensei: “Pronto, lá vem mais uma banda e mais uma temporada de cantoria como já teve em outras anteriores”. Mas não foi o que aconteceu. Em dois toques o desenrolar mostrou que vinha pela frente uma história que trata os jovens como gente grande. Como todo adolescente, desde sempre, quer ser tratado. Agora, graças à destreza com que lidam com as novas tecnologias, eles puderam se colocar de forma mais autônoma no mundo e ter seu lugar aos poucos ser reconhecido sem a mesma resistência que havia na era pré-internet.

Mas, é claro, há outros dilemas a serem vivenciados. Alguns novos, outros, nem tanto. Como é o fato de se estar mostrando as diferenças entre o universo da escola pública e o da escola particular. A discussão é nova na novela, mas muito antiga na vida real. Assim como a questão do bullying, violência física ou psicológica que acontece desde os primórdios dos tempos escolares, mas que só ganhou atenção e destaque real depois que foi descrita através de uma expressão inglesa. O que vale é a forma como esses temas estão sendo tratados. E, sem dúvida, com um cuidado e um pano de fundo que ajuda a atrair a atenção e a valorizar os assuntos.

Dentre os veteranos que estão no elenco, destaque para Vanessa Gerbelli, que vem emocionando como Vanessa, mãe de três filhos que passa pela dor de perder o mais velho em um acidente de carro. Solange Couto ainda faz lembrar muito a sua Dona Jura de “O Clone”, mas sua personagem, Dona Vanda, promete ainda provocar muita rejeição do público pelo fato de maltratar o filho mais velho para privilegiar o mais novo, que vive aprontando e tem vergonha da própria mãe por serem de uma família pobre. Já os atores novatos chegaram bem afiados na interpretação. Mas nenhum que mereça ser apontado como uma grande revelação. Pelo menos por enquanto.

Comentários à parte da trama de “Malhação”: por que novelas gravadas no exterior sempre dão crédito aos países que serviram de locação para as cenas dos primeiros capítulos e cenas gravadas no Brasil fora do eixo Rio-São Paulo, que também não são tão conhecidas do grande público, não ganham o mesmo tratamento? As cenas de alpinismo dos personagens de Nicolas Prattes e João Vithor Oliveira nos dois capítulos de estreia foram gravadas em Arraial do Cabo, Região dos Lagos do Rio de Janeiro. Por que não contribuir para o turismo interno e dar o devido crédito a esses lugares nas cenas? O mesmo vale para a novela das seis, “Além do Tempo”, que explora a Serra Gaúcha sem nem ao menos citar as cidades que servem de locação para ambientar a história. Fica a pergunta.


Mais "Malhação" em:
 
 http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2013/07/malhacao-elenco-jovem-se-mostra.html


quarta-feira, 19 de agosto de 2015

“Programa Xuxa Meneghel”: Mesmo preocupada em buscar aprovação, Xuxa mostra que está pronta para o desafio


Depois de quase 30 anos vendo Xuxa Meneghel surgindo nos palcos da Globo descendo de naves platinadas ou simplesmente aparecendo em meio a nuvens de gelo seco com seus figurinos com toques de fetiches infantilmente sensuais, deparar-se com aquela que está fadada a levar para sempre a alcunha de Rainha dos Baixinhos em uma outra emissora é algo que causa estranheza. E foi essa a principal sensação que causou a estreia do “Programa Xuxa Meneghel” na Record na noite dessa segunda-feira (17).

É claro que seria estranho ver Xuxa comandar uma atração em qualquer outra emissora depois de décadas naquela que para os mais antigos era conhecida como a Vênus Platinada. É claro também que ela só sairia da líder de audiência para se arriscar em outra que daria a ela condições de ser, no mínimo, vice-líder e com autonomia para “deixar correr solto” como ela quisesse. Foi o que ela fez: assinou um contrato muito bem costurado para estar com você, brincar com você e com os milhares de “seguidores” que conquistou ao longo de anos. Aliás, vale lembrar que a expressão “seguidores” muito antes de ser usada nas redes sociais já fazia parte dos fãs clubes de Xuxa. Então, animação na plateia não vai faltar. Muito menos nas redes sociais.

Voltando ao programa, é bem complicado tecer qualquer juízo de valor já que ele claramente se concentrou em ser uma espécie de projeto de estreia, ou uma pré-estreia. O roteiro foi nitidamente de uma atração que está procurando o seu formato ideal. Xuxa parecia muito mais preocupada em buscar a aprovação do seu público do que em convencer como dona absoluta de uma atração própria. Ela corria pelos espaços do cenário para explicar a função de cada canto como criança que mostra sua nova casinha de bonecas. Brincou com sua trajetória levando a menina, hoje adulta, que foi alvo de chacotas na internet quando a apresentadora a tratou de forma mais severa. E ao pedir perdão à mesma foi logo mostrando seu diferencial: não quer ser uma apresentadora que se faz de santinha, boazinha e certinha, do tipo que acha uma revolução sair do palco para tirar um cisco do olho. Logo na estreia, Xuxa já tirou o brinco, ao vivo. E não teve qualquer pudor em admitir: “Eu não sou um amor de pessoa, eu sou bruta às vezes. É meu jeito”, reconheceu a apresentadora.

Teve ainda a longa explicação de que não estava copiando, mas sim se inspirando no talk-show da americana EllenDeGeneres. Uma explicação desnecessária. Soou como se estivesse se justificando. E muitas indiretas para a Globo que, com certeza, estavam entaladas em sua garganta, mas que talvez surtisse mais efeito se não tivessem sido feitas. Ignorar a “outra emissora” poderia ter gerado um efeito muito mais elegante. E muito mais arrasador para ela (a “outra emissora”). Justa e justificadas as homenagens a Hebe Camargo e a Silvio Santos. Sem falar no anúncio de sua participação garantida no próximo Teleton do SBT...

Mesmo essa estreia tendo sido uma espécie de apresentação, um dos melhores momentos foi quando Xuxa fez uma “participação” cômica na novela “Os Dez Mandamentos”. Com certeza esse lado de atriz pode ser bem explorado nas novelas e programas da casa. Xuxa não tem medo de brincar e fazer os outros se divertirem com ela mesma sem medo do ridículo.

Agora é esperar os próximos. Porque, apesar de preocupada em buscar aprovação, Xuxa mostra que está pronta para o desafio.