Para quem esperava que “Verdades Secretas” fosse
apenas mais um desfile do tão purpurinado glamour mostrado nas passarelas, onde
cada modelo parece viver um eterno dia de princesa, mesmo que seus pés estejam
massacrados em calçados que, com certeza, não são de cristal, a boa notícia é
que não, não estamos mais diante de uma ingênua “Top Model”, exibida lá no fim
dos anos 80, começo dos 90. Walcyr Carrasco, autor da nova novela da Rede Globo
que estreou na segunda-feira (8), está tocando em bolhas e feridas que podem
incomodar muito quem explora de forma inescrupulosa esse “mundo cor-de-rosa”
tão sonhado por meninas dos lugares menos imagináveis de qualquer ponto do
universo. É claro que a generalização não cabe em qualquer caso, tanto na
ficção quanto na realidade. E essa generalização não deve acontecer nem de um
lado, nem do outro. Dizer que nada do que está ali acontece é tão mentiroso
quanto dizer que tudo que está ali corresponde à realidade de todas as agências
de modelo.
Em sua primeira semana no ar o que se viu foi que
tanto o autor-mentor quanto o diretor de núcleo e geral, Mauro Mendonça Filho,
utilizaram-se com maestria da fita métrica ao dosar o que explorar em cada
capítulo. Ficou claro que a protagonista desse enredo todo se chama Luxúria. E
aí está o ponto positivo no conjunto: o erotismo não se sobrepõe à história,
que está sendo contada no tempo certo, sem pressa nem atropelos, com enredo
compreensível e personagens pontuando suas presenças de forma clara e precisa.
A trama gira em torno de Arlete/Angel, jovem do
interior que sonha ser modelo e, para salvar a família que está prestes a
perder o apartamento onde mora, aceita fazer programas com clientes. E seu
primeiro cliente é Alex, um poderoso empresário que fica obcecado pela jovem. O
elenco traz nomes que dispensam comentários: Drica Moraes reina absoluta no
papel de Carolina, a mãe da new face Angel, interpretada pela estreante Camila
Queiroz, que namora com as câmeras de TV tanto quanto com as fotográficas. Só
pecou nas cenas em que caminhou como modelo pelas ruas de São Paulo mesmo antes
de ter sido preparada por Visky para as passarelas. Aliás, Rainer Cadete como
Visky é um caso à parte. Quem poderia imaginar que se trata do mesmo ator
intérprete do sério doutor Rafael Nero, que tratava da autista Linda (Bruna
Linzmeyer) em “Amor à Vida”, novela das nove exibida em 2013?
Elogiar Marieta Severo
é algo tão dispensável quanto exaltar Ana Lúcia Torre e Eva Wilma. Que tríade
de grandes atrizes brilhando e enriquecendo seus núcleos de forma equilibrada e
independente. Reynaldo Gianecchini parece ter uma química boa em cena com
atrizes mais velhas. Já mostrou isso em sua estreia em “Laços de Família”, ao
contracenar com Vera Fischer. Rodrigo Lombardi causou na estreia ao aparecer
nu, de costas, no capítulo da estreia. A bunda do ator foi sensação nas redes
sociais. Mas ainda falta mostrar algo mais de frente e vestido. Assim como
falta muito para Grazzi Massafera corresponder à expectativa criada de que ela
seria a grande revelação. Até agora o máximo que fez foi aparecer dando uma
gargalhada bem forçada, nem os figurantes que estavam a seu redor a
acompanharam.
Enfim, “Verdades Secretas” tem mais pinta de minissérie do que de novela. Mas, já que querem dar essa nomenclatura, tudo bem. Acho apenas que para ser chamada de “novela das onze” deveria, no mínimo, ser exibida a partir das 23h. Afinal, a “classificação indicativa” estipulada pelo Ministério da Justiça não está determinando que o programa esteja liberado para maiores de 16 anos dentro desse horário?