Uma das características mais marcantes na construção
das personagens de “Sete Vidas”, novela das seis da Rede Globo, é o traço de humanidade
que há em cada um, ora levando para o lado mais coerente e correto, ora jogando
para a versão mais errada, insegura e até mesmo inaceitável, e outras vezes
simplesmente deixando tudo se misturar numa forma tresloucada de ser que não dá
vazão nem para ser considerada definitivamente certa ou errada. É nessa última categoria
que está Laila, personagem de Maria Eduarda de Carvalho, que por trás da imagem
de irreverente e irresponsável não escolhe a melhor hora ou lugar para disparar
sua metralhadora de palavras que na maioria das vezes está munida de verdades,
as quais seus alvos não querem ou não estão esperando ouvir. E assim ela vai
demolindo aos poucos a hipocrisia que enverniza tanto a imagem de mocinhos e
mocinhas quanto a daqueles vistos como bandidos.
Nessa semana, Laila teve um de seus textos mais
contundentes ao alertar o confuso Pedro (Jayme Matarazzo) de que seu
comportamento estava sendo um plágio das atitudes de seu pai biológico, Miguel
(Domingos Montangner), tão criticadas por ele próprio. Em pleno jantar em que
todos os irmãos estavam reunidos, todos se calaram diante da verdade dita pela
jovem rebelde. Suas teorias, na verdade, são muito mais práticas. E dá para
dizer até que suas opiniões atingem resultados muito mais eficazes, rápidos e
descompromissados do que as teorias da terapeuta da história, Isabel (Mariana
Lima).
Percebe-se que até nas atitudes mais positivas Laila
é mal compreendida. Como quando ajudou o irmão adolescente Bernardo (Guilherme
Lobo) a desmascarar a farsa do salafrário namorado de sua mãe, Durval (Cláudio
Jaborandy), ou quando jogou inúmeras vezes na cara do irmão gêmeo, Luís (Thiago
Rodrigues), sua incapacidade de reconhecer que vivia um casamento de fachada
com a mulher. É perceptível também ver o quanto ela tenta mostrar que não está
nem aí para o pai biológico, embora no fundo suas reações revelem uma mágoa por
ter aquela figura masculina tão ausente em sua vida. Isso fica evidente quando
insinua para sua mãe adotiva, Esther (Regina Duarte), que ela não tem
experiência de casal, já que tinha por companheira outra mulher. Nunca se
posicionou contra a relação homo afetiva das duas mães e, talvez por isso,
essas explosões aconteçam quando a própria Esther exagera colocando-se como
dona da verdade ao dar “conselhos” para a filha. As duas têm gênios parecidos,
quase iguais.
Em alguns momentos ela também extrapolou. Como
quando com a desculpa de ser livre envolveu-se com o noivo de uma cliente do
bufê onde trabalhava como Dj, por conta dessa aventura causou o cancelamento do
casamento dos noivos e, consequentemente, perdeu o emprego. Impulsiva ao
extremo, beijou Vicente (Ângelo Antônio) em uma noite em que sua função era de
ser babá do enteado do músico casado com Lígia (Débora Bloch). Mas, até aí ela
pode se valer da máxima que diz que “quando um não quer dois não brigam”. Ou,
no caso, “não beijam”. Mais uma vez a fraqueza do outro serve como sustento às
ousadias desenfreadas dela. O caso mais questionável foi quando providenciou uma
identidade falsa para Bernardo conseguir um emprego que exigia que o candidato
fosse maior de idade. A intenção podia ser boa, mas a prática, criminosa.
Mas Laila aparece como um respiro, mesmo que seja
meio torpe, no meio de tanta gente problemática reunida. Isso porque ela está
longe de ser o tipo de mulher que cogite por um segundo ir a um lugar, ou
permanecer em um lugar onde saiba que não vai se sentir fazendo parte daquela
tribo. Seja lá qual tribo for. Se Laila foi criada para ser a ovelha negra da “família”,
na verdade a personagem transformou-se quase em um alter ego dos seus meios-irmãos
na história. E vamos combinar que Maria Eduarda caiu como uma luva nessa personagem
inteligente, perspicaz, que circula por qualquer ambiente sem a menor sensação
de desconforto. Quiçá ela não seja o alter ego de algum dos autores da novela
escrita por Lícia Manzo e Daniel Adjafre, com colaboração de Cecília Giannetti,
Dora Castelar, Marta Góes e Rodrigo Castilho...
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