sexta-feira, 19 de junho de 2015

“Sete Vidas”: Laila revoluciona o conceito de mocinha e vilã ao disparar sua metralhadora de palavras verdadeiras para todos os lados


Uma das características mais marcantes na construção das personagens de “Sete Vidas”, novela das seis da Rede Globo, é o traço de humanidade que há em cada um, ora levando para o lado mais coerente e correto, ora jogando para a versão mais errada, insegura e até mesmo inaceitável, e outras vezes simplesmente deixando tudo se misturar numa forma tresloucada de ser que não dá vazão nem para ser considerada definitivamente certa ou errada. É nessa última categoria que está Laila, personagem de Maria Eduarda de Carvalho, que por trás da imagem de irreverente e irresponsável não escolhe a melhor hora ou lugar para disparar sua metralhadora de palavras que na maioria das vezes está munida de verdades, as quais seus alvos não querem ou não estão esperando ouvir. E assim ela vai demolindo aos poucos a hipocrisia que enverniza tanto a imagem de mocinhos e mocinhas quanto a daqueles vistos como bandidos.

Nessa semana, Laila teve um de seus textos mais contundentes ao alertar o confuso Pedro (Jayme Matarazzo) de que seu comportamento estava sendo um plágio das atitudes de seu pai biológico, Miguel (Domingos Montangner), tão criticadas por ele próprio. Em pleno jantar em que todos os irmãos estavam reunidos, todos se calaram diante da verdade dita pela jovem rebelde. Suas teorias, na verdade, são muito mais práticas. E dá para dizer até que suas opiniões atingem resultados muito mais eficazes, rápidos e descompromissados do que as teorias da terapeuta da história, Isabel (Mariana Lima).

Percebe-se que até nas atitudes mais positivas Laila é mal compreendida. Como quando ajudou o irmão adolescente Bernardo (Guilherme Lobo) a desmascarar a farsa do salafrário namorado de sua mãe, Durval (Cláudio Jaborandy), ou quando jogou inúmeras vezes na cara do irmão gêmeo, Luís (Thiago Rodrigues), sua incapacidade de reconhecer que vivia um casamento de fachada com a mulher. É perceptível também ver o quanto ela tenta mostrar que não está nem aí para o pai biológico, embora no fundo suas reações revelem uma mágoa por ter aquela figura masculina tão ausente em sua vida. Isso fica evidente quando insinua para sua mãe adotiva, Esther (Regina Duarte), que ela não tem experiência de casal, já que tinha por companheira outra mulher. Nunca se posicionou contra a relação homo afetiva das duas mães e, talvez por isso, essas explosões aconteçam quando a própria Esther exagera colocando-se como dona da verdade ao dar “conselhos” para a filha. As duas têm gênios parecidos, quase iguais.

Em alguns momentos ela também extrapolou. Como quando com a desculpa de ser livre envolveu-se com o noivo de uma cliente do bufê onde trabalhava como Dj, por conta dessa aventura causou o cancelamento do casamento dos noivos e, consequentemente, perdeu o emprego. Impulsiva ao extremo, beijou Vicente (Ângelo Antônio) em uma noite em que sua função era de ser babá do enteado do músico casado com Lígia (Débora Bloch). Mas, até aí ela pode se valer da máxima que diz que “quando um não quer dois não brigam”. Ou, no caso, “não beijam”. Mais uma vez a fraqueza do outro serve como sustento às ousadias desenfreadas dela. O caso mais questionável foi quando providenciou uma identidade falsa para Bernardo conseguir um emprego que exigia que o candidato fosse maior de idade. A intenção podia ser boa, mas a prática, criminosa.

Mas Laila aparece como um respiro, mesmo que seja meio torpe, no meio de tanta gente problemática reunida. Isso porque ela está longe de ser o tipo de mulher que cogite por um segundo ir a um lugar, ou permanecer em um lugar onde saiba que não vai se sentir fazendo parte daquela tribo. Seja lá qual tribo for. Se Laila foi criada para ser a ovelha negra da “família”, na verdade a personagem transformou-se quase em um alter ego dos seus meios-irmãos na história. E vamos combinar que Maria Eduarda caiu como uma luva nessa personagem inteligente, perspicaz, que circula por qualquer ambiente sem a menor sensação de desconforto. Quiçá ela não seja o alter ego de algum dos autores da novela escrita por Lícia Manzo e Daniel Adjafre, com colaboração de Cecília Giannetti, Dora Castelar, Marta Góes e Rodrigo Castilho...

Vale lembrar que alguns autores já assumiram a paternidade de seus “Grilos Falantes” em novelas que escreveram. Como aconteceu em “Belíssima”, quando Silvio de Abreu admitiu que o romântico Cemil, interpretado por Leopoldo Pacheco, era seu alter ego. Já Aguinaldo Silva não deixou dúvidas de que o seu em “Império” era o blogueiro do mal Téo, personagem de Paulo Betti. Enquanto Carlos Lombardi contou que o seu alter ego malvado da novela “Pecado Mortal”, na Record, era o policial Picasso, vivido por Vitor Hugo.



Mais "Sete Vidas" em:
http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2015/03/sete-vidas-com-texto-e-direcao.html