Se a intenção fosse escrever sobre o universo
fonográfico, com certeza estaria discorrendo sobre a trajetória de Cristiano
Araújo, cantor sertanejo morto em um acidente nessa quarta-feira (24). E, como
tem feito a maioria que toca no assunto, estaria elaborando teorias sobre o
fenômeno de um músico que levava milhares de pessoas a seus shows, tinha mais
de seis milhões de seguidores nas redes sociais e não ser assim tão conhecido
de uma boa parcela do público que, curiosamente, também manifestou esse
desconhecimento via redes sociais. Prova de que o mundo virtual também pode
estar contaminado dessas ironias do mundo real.
Como a intenção aqui é analisar o papel da televisão,
não poderia deixar de levantar a questão de por que a Rede Globo se jogou de
cabeça a uma busca desenfreada por audiência em um momento como esse, repetindo
o padrão de outras emissoras acostumadas a explorarem a dor alheia em momentos
como esse?
E o que se viu foi a emissora se perder em um festival
de gafes na ânsia por faturar uma audiência que não se sabe até que ponto é tão
classificada quanto a que se buscava nos áureos tempos em que o que valia mesmo
era o Padrão Globo de Qualidade. Logo após a confirmação da morte do cantor, Ana
Maria Braga começou a chamar para si o fato de ter sido o “Mais Você” que
lançou Cristiano na TV. Feito contestado à noite por Carlos Massa, no SBT,
garantindo que o sertanejo se apresentou pela primeira vez na TV no “Programa
do Ratinho. Já Fátima Bernardes, ainda de manhã, no seu “Encontro”, inaugurou a
sucessão de erros ao encerrar o programa dizendo que mostraria imagens em “homenagem
a Cristiano Ronaldo”, trocando o nome do cantor pelo do jogador português. A
imagem dela já não estava mais no ar, mas foi possível ouvir alguém corrigindo a apresentadora, que, meio atônita, afirmava: “Meu Deus, o que eu disse”?”.
Para piorar, a Globo, resolveu transformar a morte do
sertanejo em um evento merecedor de quase três horas de um “Vídeo Show” especial,
ao vivo, copiando programas da concorrência, como Record e Rede TV!, tão
escrachados e chamados de sensacionalistas pela própria Globo. E lá no “Vídeo Show”,
além de uma repórter também chamar o cantor de Cristiano Ronaldo, estava
escancarada a expressão de “saco cheio” estampado na cara de seus
apresentadores, Otaviano Costa e Mônica Iozzi. A única profissional a
segurar a onda foi Sandra Annemberg, que se manteve a postos em São Paulo
ancorando as notícias do jornalismo. Mesmo que essas informações já não trouxessem
mais nada de novo e se repetissem exaustivamente a cada boletim. O mesmo se
repetiu à noite no “Jornal Nacional”, que parece até ter se aproveitado do
subterfúgio da comoção para fugir da responsabilidade de tratar de notícias que
realmente interessam a quem busca se informar no telejornal que já foi tradição
na casa.
E no dia seguinte, quinta-feira (26), no “Mais Você”, durante
reportagem sobre o velório, Ana Maria Braga deu uma de Fátima Bernardes e também trocou o
nome do morto: na hora de dizer que estava se despedindo de Cristiano deu o seu
“Adeus” a Leonardo, sem perceber que errou de cantor sertanejo. Isso sem falar
na repórter da afiliada da TV Anhanguera que entrou no mesmo matinal para falar
sobre a história de um anel que Cristiano teria dado à namorada, também morta,
e disse que Allana Moraes teria falado sobre o presente: “Eu quero ele porque
me apaixonei por aquele anal”. Em seguida a repórter se corrigiu no ar: “Anel.
Perdão, anel”. Baixa o pano!