sexta-feira, 13 de março de 2015

“Sete Vidas”: Com texto e direção refinados, além de elenco afinado, novela das seis traz amadurecimento digno de horário nobre


Depois de um passeio pelos anos 70, embalado pelo som e visual da época mostrada em “Boogie Oogie”, “Sete Vidas”, que estreou na segunda-feira (9), já mostrou em sua primeira semana que os tempos são outros e que chegou a vez de o horário das seis ganhar uma história com jeito de gente grande na Rede Globo. De autoria de Lícia Manzo e Daniel Adjafre, a novela vem mostrando a cada capítulo um texto maduro, diálogos bem elaborados sem cair no trivial das conhecidas frases de efeito e tramas bem costuradas, encerrando cada bloco de forma inteligente, deixando o famoso “gancho”, que deixa no telespectador o desejo de saber o que virá depois. O toque retrô ficou apenas nos detalhes das imagens do clipe de abertura ao som de “What A Wonderful World”, de Louis Armstrong, cantada por Tiago Iorc.

Conta a favor o elenco enxuto e muito bem escalado, com Débora Bloch e Domingos Montagner numa sintonia que fez o público ficar torcendo pelo casal Lígia e Miguel logo nas primeiras cenas. Espera-se, no entanto, que com o afastamento dos dois, devido a uma falsa morte do biólogo, eles não acabem caindo naquela batida mesmice de amores mal resolvidos que se arrastam até o último capítulo.

Destaque também para Malu Galli interpretando Irene, uma mulher forte, segura e preocupada com a irmã, Lígia, e para Cláudia Mello, que, no papel da sofrida Guida, já deixou no ar a deixa de que conhece o grande segredo de Marta (Gisele Fróes). Certamente tem a ver com a real paternidade de Júlia (Isabelle Drummond) que em algum momento será revelado para permitir que a jovem possa viver um romance com Pedro (Jayme Matarazzo), de quem ela pensa ser meia irmã.

Sem grandes malabarismos dramatúrgicos, os principais ingredientes para um bom folhetim estão lá. E a receita ainda tem a mão de Jayme Monjardim na direção geral. As imagens captadas na Patagônia Argentina não só mostraram com riqueza o ambiente formado por geleiras, icebergs e animais marinhos, como traduziram bem a emoção da viagem feita pela equipe para registrar as cenas. As sequências do acidente com o barco de Miguel sob uma tempestade em alto mar, que foram ao ar nos capítulos de quarta e quinta-feira, apesar de serem de ação, tiveram o tempo, o som, as cores e a suavidade característicos da assinatura de Monjardim. Agora é torcer para que os próximos mantenham a qualidade e o ritmo vistos nesses primeiros capítulos.