Em apenas uma semana no ar, “Babilônia”, nova novela
das nove da Rede Globo, já conseguiu o que outras não conseguiram nem em meses:
despertar sentimentos de amor e ódio no público, ambos com a mesma intensidade.
De autoria de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, a história
mescla cenas fortes, texto contundente e situações polêmicas. Logo na estreia,
na segunda-feira (16), já se viu Beatriz, em mais uma interpretação magistral
de Glória Pires, matando com um tiro a sangue frio o amante para escapar da
chantagem feita por Inês, vivida por Adriana Esteves, que promete se superar
depois da sua marcante Carminha de “Avenida Brasil”. Ponto para as duas atrizes
que prometem viver um duelo de titãs, como ficou comprovado durante a semana,
não apenas pelo talento de ambas, mas também pelo texto primoroso dos autores.
Como não se deliciar quando Inês fala: “Você sabe o que é ser advogada num país
sem Justiça?”. E, em outro momento, é a vez de Beatriz afirmar com ironia: “O
bom advogado é o que conhece as leis. O excelente advogado é o que conhece os
juízes!”. Qualquer semelhança não é mera coincidência.
Ainda no primeiro capítulo, Fernanda Montenegro e
Nathalia Timberg protagonizaram um beijo na boca, já que suas personagens,
Teresa e Estela, respectivamente, formam um casal da terceira idade assumidamente
vivendo uma relação homoafetiva. O que mexeu com a ala mais conservadora ou menos
preparada para ver na prática o que tem ouvido só na teoria ou ainda que não
aceita que esse tipo de condição sexual não é uma invenção das novas gerações.
Fora essa polêmica (?), o que vale mesmo é que a novela
no seu todo traz críticas sociais e políticas claramente expostas através da
maioria de suas personagens. Não é nem preciso ir muito longe para se encontrar
na vida real exemplos semelhantes a Aderbal Pimenta, o político corrupto vivido
por Marcos Palmeira. Nem de cafetões disfarçados de príncipes que circulam pela
capital carioca como é o caso de Murilo, personagem de Bruno Gagliasso, que,
diga-se de passagem, ainda está muito preso ao seu perfil em “Dupla
Identidade”. Camila Pitanga também poderia buscar um tom que não torne a sua
Regina, que tem tudo para ser uma mulher forte diante do que já viveu e
continua vivendo, em uma mocinha boba que aceita tudo com um sorriso congelado
porque quer passar a imagem de que é muito legal morar na favela e ser mãe
solteira da filha de um homem casado que a enganou. No caso, Luís Fernando,
vivido por Gabriel Braga Nunes, que está se repetindo ao dar ao personagem
nuances de Leo, trabalho que marcou sua volta à Globo em “Insensato Coração”. Já
Sophie Charlotte deixou para trás a Duda do remake de “O Rebu” e voltou
repaginada na pele da Alice Junqueira, filha de Inês que promete ainda causar
muito. A atriz não deixou a dever em nada nos embates que teve até aqui com
Adriana Esteves. A cena do aborto espontâneo da personagem foi realizada com a
delicadeza indispensável ao momento.