domingo, 8 de março de 2015

“Boogie Oogie”: De volta aos anos 70, novela conclui viagem com competência evidenciada em texto, atuação do elenco e cuidado da direção em todas as áreas


O autor Rui Vilhena carimbou com visto de ouro a viagem feita aos anos 70 em “Boogie Oogie”, novela das seis da Rede Globo que chegou ao fim nessa sexta-feira (6). A história trouxe ingredientes já vistos em folhetins tradicionais, como troca de bebês, homens infiéis, mulheres traídas sedentas de vingança, entre outros, mas realizada de uma forma eficaz, dando ao corriqueiro um toque clássico. A ideia de fazer um desfecho que remeteu a situações semelhantes às do capítulo de estreia foi bem elaborada, sem cair na mesmice e encerrando cada bloco com ganchos, como aconteceu nos finais dos capítulos ao longo da novela.

O lance do mistério envolvendo o grande segredo de Carlota, brilhantemente interpretada por Giulia Gam, também é um trunfo ao qual a maioria dos autores se apega em suas novelas, mas nem todos conseguem manter o fôlego de não deixá-lo cair no lugar comum, como fez Rui Vilhena, com as investigações flutuando ora com um personagem, ora com outro.

Destaque para a excelente caracterização, que engloba figurinos, acessórios, cabelos e maquiagens, e também para a direção de arte e cenografia, minuciosa nos detalhes de época. Assim como para a trilha sonora escolhida a dedo e que embalou tanto os saudosistas daquela época quanto a nova geração que só agora tomou contato com sons como o tema de Sandra (Ísis Valverde) e Rafael (Marco Pigossi), “Your Song”, música composta por Elton John no final dos anos 60 e lançada em 1970.

A sintonia existente entre todos no elenco com certeza foi sentida na entrega de cada um a seu personagem. Bianca Bin, que já tinha se saído bem como vilã no remake de “Guerra dos Sexos”, em 2012, dessa vez se superou como Vitória, uma menina mimada má, mas também com demonstrações de humanidade que tiveram seu ponto alto no final, ao ser a heroína salvando Sandra, sua maior rival na disputa pelo amor de Rafael. Assim como foi o caso de Alessandra Negrini, que fez de sua Suzana uma mulher muito mais irresponsável e destrambelhada do que mesmo maquiavélica, quase incorporando sua marcante Engraçadinha.

Delícia também foi ver o reencontro de Betty Faria e Francisco Cuoco em cena. Não teve como não recordar do par romântico que fizeram na primeira versão de “Pecado Capital”, em 1975, como Lucinha e Carlão, respectivamente. E, para concluir a viagem em grande estilo, foi divertida e tudo a ver com toda a novela a ideia de reunir o elenco se esbaldando na pista de dança da Boogie Oogie. Isso após Carlota ter recuperado as jóias escondidas no túmulo do falecido marido bandido e partido sozinha para a Europa deixando uma carta que encerrava com a emblemática frase que justificou toda sua trajetória: “Dane-se o amor!”.