quarta-feira, 24 de agosto de 2016

“Justiça”: Série emociona ao fazer refletir sobre ética e moral em situações que podem parecer injustamente justas


Como já era previsível pelas chamadas, “Justiça”, nova série da Rede Globo que estreou nessa segunda-feira (22), veio cumprir uma lacuna que havia na grade de programação de produtos que justificassem o padrão de qualidade sempre tão alardeado pela emissora. Lacuna essa que não deveria haver, já que a emissora tem competência para produzir programas com qualidade em séries, literalmente.

O roteiro de “Justiça” emociona, faz refletir e até irrita, pelos mais variados tipos de emoções que instiga em quem assiste. Não chega a ser algo inusitado na televisão brasileira em termos de contexto ficcional. Fatos da vida real trazidos para a ficção, mesclando temas jurídicos e retratando como algumas leis podem ser aplicadas de forma justa ou injusta já foi feito desde os tempos de “Caso Verdade”, nos anos 80; em “Delegacia de Mulheres”, nos anos 90, e, em um dos produtos de maior qualidade na emissora nesse sentido, pois trazia fatos reais para a teledramaturgia, que foi o “Linha Direta- Justiça”, exibido entre 1999 e 2007.

O que “Justiça” realmente traz de diferencial em relação a produções anteriores com focos semelhantes é o leque de novos recursos tecnológicos que está a serviço de uma equipe de verdadeiros mestres em levar uma linguagem de cinema para a televisão. A direção artística de José Luiz Villamarim está impecável e o texto de Manuela Dias se sobressai na interpretação de um elenco afiado que consegue fazer brotar emoção em cada fala, por mais ácidas que possam ser algumas palavras usadas. Soam mais fortes ainda por serem frases que, na verdade, fazem parte do nosso cotidiano, se não ditas por nós mesmos são ouvidas por outrem nas ruas, e até dentro de nossas casas.

“Se a lei não existe para fazer justiça, existe para quê?”, pergunta Elisa, a protagonista do primeiro episódio brilhantemente interpretada por Débora Bloch. Na história que marcou a estreia da série que contará quatro histórias distintas em 20 episódios, Elisa é uma professora de Direito que vê a filha, Isabela (Marina Ruy Barbosa) ser assassinada a tiros pelo noivo, Vicente (Jesuíta Barbosa) ao ser flagrada transando com o ex-namorado no banheiro de sua casa, e não supera essa perda. O assassino é condenado a sete anos de prisão e Elisa se prepara durante todo esse tempo para matá-lo no momento em que ele sair do presídio. Com certeza a cena em que a mãe abraça o corpo da filha morta coberto de sangue foi uma das mais impactantes vista nos últimos tempos em teledramaturgia. Marina Ruy Barbosa e Jesuíta Barbosa mostraram sintonia e segurança, mas foi Débora Bloch quem realmente brilhou em uma interpretação visceral em todos os momentos da personagem.

Interessante e bem planejada a ideia de interligar os episódios através da participação dos protagonistas das outras três histórias fazendo participação como coadjuvantes naquela que está sendo exibida. Como aconteceu no primeiro episódio em que Adriana Esteves, Cauã Reymond e a dupla Luísa Arraes e Jéssica Ellen apareceram como se estivessem apenas dando uma palhinha do que aconteceria nas histórias pessoais de suas personagens.

E de empregada doméstica da casa de Elisa no primeiro episódio, Adriana Esteves trouxe sua Fátima para roubar todas as cenas no segundo episódio, na terça-feira (23), em que ela e o marido, Waldir (Ângelo Antônio) levam uma vida humilde mas feliz em um sítio na periferia, até a chegada de seu novo vizinho, o policial miliciano Douglas (Henrique Diaz) e sua namorada Kellen (Leandra Leal), mais o cão Furacão. O animal feroz começa a atacar as galinhas do sítio e, num momento de fúria, enquanto o marido está mal no hospital após ter sido esfaqueado em uma briga de bar, Fátima mata o animal. Para se vingar, Douglas “planta” drogas no jardim do casal e ela é presa. Sete anos depois, a empregada doméstica é libertada e só encontra em sua casa os escombros dos atos que a milícia fez na vida de sua família. Henrique Diaz, como sempre, se supera a cada personagem truculento que coleciona, e Leandra Leal dispensa comentários ao se reinventar e surpreender a cada trabalho. A atriz esbanjou sensualidade e reafirmou merecer ser um dos maiores talentos de sua geração.

Os desfechos dos dois primeiros episódios foram impactantes e deixaram no ar a expectativa sobre o que virá nos próximos. Com certeza, mais cenas de ação e emoção que, espera-se, leve o público a refletir ainda mais sobre o conceito do que é justo ou injusto do ponto de vista de cada situação, onde ética e moral são colocadas à prova.



Mais sobre séries em:
http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2016/01/ligacoes-perigosas-aracy-balabanian.html