O autor Walcyr Carrasco fechou com chave de ouro a
história de “Êta Mundo Bom!”, novela das seis da Rede Globo, que chegou ao fim
na sexta-feira (26), com reprise nesse sábado (27). Sem atropelos nem
sequências arrastadas que costumam pontuar o último capítulo de alguns
folhetins, os personagens principais tiveram seus desfechos contados de forma
eficaz e muitos coadjuvantes viveram seus minutos de protagonistas. É até
difícil selecionar destaques em meio a um conjunto tão bem orquestrado pela
direção geral e artística de Jorge Fernando e um elenco que contou com nomes
que dispensam qualquer adjetivo como os de Elizabeth Savalla, Rosi Campos, Ary
Fontoura, Suely Franco e Ana Lúcia Torre, entre tantos outros.
Eliane Giardini e Sérgio Guizé pareciam ter nascido
para interpretar, respectivamente, Anastácia e Candinho, mãe e filho em torno
de quem girou todas as demais tramas. Marco Nanini revolucionou ao se dividir nos
papeis dos gêmeos com perfis sui generis como o metido e cascateiro geólogo Dr.
Pandolfo e o lúdico professor Pancrácio. Sem falar nos inúmeros tipos a que o
ator se submeteu, mergulhado nas fantasias fantásticas criadas e vividas pelo
filósofo para ganhar dinheiro nas ruas.
Mas não há como não exaltar nesse final o equilíbrio
perfeito que houve entre as cenas de drama, romance e humor. Foi impactante o destino
dado à vilã Sandra (Flávia Alessandra), começando pelo acidente em que seu
amante Ernesto (Eriberto Leão) morreu em seus braços até seu desespero dentro
da prisão, onde não perdeu a pose, foi jogada em uma solitária e teve que comer
até a comida que ela própria, em um gesto de fúria, havia jogado no chão.
O momento mais comovente não poderia ser outro que não
a morte de Gerusa (Giovanna Grigio), de leucemia, no hospital, e de Osório
(Arthur Aguiar), de amor, à beira do túmulo da noiva. Poderia ter sido
extremamente deprimente, mas se tornou bonito pelo tratamento delicado. Ficou
suave a cena em que os dois apareceram felizes, sorrindo e dançando a valsa do
casal, já em “outro plano”.
Humor e romance, ingredientes predominantes na novela
inteira, não faltaram na hora de decidir os rumos dos personagens do núcleo
mais divertido, que foi o da fazenda. O “não” que Mafalda (Camila Queiroz) deu
no altar para Romeu (Klebber Toledo), preferindo se casar com Zé dos Porcos (Anderson
Di Rizzi), acabou com a grande expectativa de qual “cegonho” a fogosa
caipirinha iria escolher. Bem sacado o simbolismo do voo do “cegonho” através
do vento soprando o véu da noiva em sua noite de núpcias no galpão do Zé dos
Porcos.
E não poderia ter sido mais simplória e verdadeira a mensagem dita por Candinho antes de beijar Filomena (Débora Nascimento) no altar, ao fim da cerimônia de seu casamento. “Tudo que acontece de pior, é para melhorar”, afirmou ele olhando para a câmara, repetindo para o público a frase sempre repetida por ele nos momentos mais difíceis vividos por ele ao longo da história. Sem dúvida, foi um FIM que fez jus à homenagem que Walcyr Carrasco quis prestar a Amâncio Mazzaropi, ou simplesmente Mazzaropi, o maior ator de rádio, teatro e TV do cinema brasileiro, que, em 1954 protagonizou no cinema “Candinho”, filme baseado em um conto de Voltaire, “Cândido ou Otimismo”, e que, por sua vez, serviu de inspiração à novela. E, como diz o original de Voltaire: “Tudo é para o melhor neste melhor dos mundos”.
Mais "Êta Mundo Bom!" em:
http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2016/06/eta-mundo-bom-novela-foge-do-padrao-de.html