A Rede Globo está se aprimorando em alimentar factoides
criados a favor ou contra ela própria. Primeiro foi a entrevista concedida pela
presidente Dilma Rousseff ao “Programa do Jô” que, de tão chapa branca, acabou
rendendo até ameaças a Jô Soares. Depois veio o episódio envolvendo Zeca Camargo
e sua crônica no “Jornal das Dez” da GloboNews sobre a comoção exaltada pelas
emissoras de televisão na cobertura da morte do cantor sertanejo Cristiano
Araújo. E agora, o destaque dado à agressão via internet a Maria Júlia
Coutinho, conhecida como Majú, a Garota do Tempo do “Jornal Nacional”, que
estaria sendo vítima de injúria ou racismo nas redes sociais por internautas
que, diga-se de passagem, possuem perfis fakes.
Começando pelo fato mais recente: Majú, aquela que
já era conhecida por tal apelido há anos, desde quando apresentava o telejornal
regional de São Paulo, mas gostou, sim, de pegar carona no fato de todos
acharem que foi Willian Bonner quem lhe deu tal alcunha quando ela foi para o
horário nobre do telejornal da casa. Sem dúvida alguma, o discurso de Maria
Júlia ao vivo no “JN” dessa sexta-feira (3) para se defender das agressões de
cunho racista que sofreu foi elegante e conciso. Tocou fundo na alma de quem
assistia e que também condena qualquer tipo de preconceito.
Agora, diante do
ocorrido, é preciso avaliar se a reação de internautas - que, vale reforçar, a
maioria era de perfis falsos - realmente teve a ver apenas com o fato de Maria
Júlia ser negra. Outra jornalista em seu lugar, sendo loira, ruiva ou qualquer
outra cor de cabelo ou de outra raça, gorda ou magra, alta ou baixa, não poderia
sofrer agressões semelhantes se fosse colocada, como Maria Júlia foi, num
pedestal erguido pelo editor-chefe e apresentador-mor do “JN”, Sr. Willian
Bonner? Será que a jornalista não incomodou também por ter chegado “chegando”,
numa postura toda própria, um tanto quanto altiva, e que teve uma receptividade
da bancada do “JN” um tanto quanto efusiva demais para um telejornal sério?
Bonner
está tão extasiado que continua propagando nas redes sociais uma campanha
utilizando a hastag SomosTodosMajú, plagiando a frase Je Suis Charlie, que
invadiu a internet mundial em janeiro deste ano após um ataque terrorista que
deixou vários mortos em Paris na redação da Charlie Hebdo, revista semanal francesa
famosa por fazer charges e críticas ácidas ao islamismo e outras religiões. A
comparação me parece um tanto exagerada. O jornalista, que se auto-intitula “Tio”
no mundo virtual, extrapola mais uma vez.
Soou e continua soando tudo meio estranho. Mais
ainda para alguns da imprensa que, alguns dias após a estreia de Maria Júlia, receberam
um e-mail com sugestão de “pauta” para entrevistar a própria. Estranho o fato
de uma jornalista que estava aparecendo há tão pouco tempo em rede nacional já
ter uma assessoria de imprensa própria. Estranha também é essa exaltação a Majú,
que mais parece uma armação na busca por audiência, uma vez que, sabe-se, o
ibope não tem sido muito favorável àquele que já foi o mais tradicional
telejornal da TV brasileira.
Sobre a crônica de Zeca Camargo no “Jornal das Dez”
da GloboNews, não sei nem por que virou motivo de discussão popular nas redes
sociais. Será que os fãs do cantor sertanejo estavam assistindo ao telejornal
de uma TV por assinatura às 22h? E o que os telespectadores de TV a cabo que,
ao que parece, correram para as redes sociais esbravejar, faziam antes quando
não engrossavam a legião de fãs do cantor? É tudo muito doido! Ele tinha fãs que
não estavam nas redes. Aí, de repente, aparece um monte de fãs nas redes. É
muita gente querendo aparecer. O Zeca disse tudo que muitos queriam dizer e
tinham vergonha. E muitas de suas palavras foram distorcidas. Não sei por que ele
foi se justificar no “Video Show”. O público do “Vídeo Show”, da Globo, é o
mesmo que assiste ao “Jornal das Dez” da GloboNews?
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