sábado, 4 de julho de 2015

“Jornal Nacional”: É preciso não transformar a luta contra qualquer tipo de preconceito em mais um factoide na busca por audiência


A Rede Globo está se aprimorando em alimentar factoides criados a favor ou contra ela própria. Primeiro foi a entrevista concedida pela presidente Dilma Rousseff ao “Programa do Jô” que, de tão chapa branca, acabou rendendo até ameaças a Jô Soares. Depois veio o episódio envolvendo Zeca Camargo e sua crônica no “Jornal das Dez” da GloboNews sobre a comoção exaltada pelas emissoras de televisão na cobertura da morte do cantor sertanejo Cristiano Araújo. E agora, o destaque dado à agressão via internet a Maria Júlia Coutinho, conhecida como Majú, a Garota do Tempo do “Jornal Nacional”, que estaria sendo vítima de injúria ou racismo nas redes sociais por internautas que, diga-se de passagem, possuem perfis fakes.

Começando pelo fato mais recente: Majú, aquela que já era conhecida por tal apelido há anos, desde quando apresentava o telejornal regional de São Paulo, mas gostou, sim, de pegar carona no fato de todos acharem que foi Willian Bonner quem lhe deu tal alcunha quando ela foi para o horário nobre do telejornal da casa. Sem dúvida alguma, o discurso de Maria Júlia ao vivo no “JN” dessa sexta-feira (3) para se defender das agressões de cunho racista que sofreu foi elegante e conciso. Tocou fundo na alma de quem assistia e que também condena qualquer tipo de preconceito.

Agora, diante do ocorrido, é preciso avaliar se a reação de internautas - que, vale reforçar, a maioria era de perfis falsos - realmente teve a ver apenas com o fato de Maria Júlia ser negra. Outra jornalista em seu lugar, sendo loira, ruiva ou qualquer outra cor de cabelo ou de outra raça, gorda ou magra, alta ou baixa, não poderia sofrer agressões semelhantes se fosse colocada, como Maria Júlia foi, num pedestal erguido pelo editor-chefe e apresentador-mor do “JN”, Sr. Willian Bonner? Será que a jornalista não incomodou também por ter chegado “chegando”, numa postura toda própria, um tanto quanto altiva, e que teve uma receptividade da bancada do “JN” um tanto quanto efusiva demais para um telejornal sério?

Bonner está tão extasiado que continua propagando nas redes sociais uma campanha utilizando a hastag SomosTodosMajú, plagiando a frase Je Suis Charlie, que invadiu a internet mundial em janeiro deste ano após um ataque terrorista que deixou vários mortos em Paris na redação da Charlie Hebdo, revista semanal francesa famosa por fazer charges e críticas ácidas ao islamismo e outras religiões. A comparação me parece um tanto exagerada. O jornalista, que se auto-intitula “Tio” no mundo virtual, extrapola mais uma vez.

Soou e continua soando tudo meio estranho. Mais ainda para alguns da imprensa que, alguns dias após a estreia de Maria Júlia, receberam um e-mail com sugestão de “pauta” para entrevistar a própria. Estranho o fato de uma jornalista que estava aparecendo há tão pouco tempo em rede nacional já ter uma assessoria de imprensa própria. Estranha também é essa exaltação a Majú, que mais parece uma armação na busca por audiência, uma vez que, sabe-se, o ibope não tem sido muito favorável àquele que já foi o mais tradicional telejornal da TV brasileira.

Sobre a crônica de Zeca Camargo no “Jornal das Dez” da GloboNews, não sei nem por que virou motivo de discussão popular nas redes sociais. Será que os fãs do cantor sertanejo estavam assistindo ao telejornal de uma TV por assinatura às 22h? E o que os telespectadores de TV a cabo que, ao que parece, correram para as redes sociais esbravejar, faziam antes quando não engrossavam a legião de fãs do cantor? É tudo muito doido! Ele tinha fãs que não estavam nas redes. Aí, de repente, aparece um monte de fãs nas redes. É muita gente querendo aparecer. O Zeca disse tudo que muitos queriam dizer e tinham vergonha. E muitas de suas palavras foram distorcidas. Não sei por que ele foi se justificar no “Video Show”. O público do “Vídeo Show”, da Globo, é o mesmo que assiste ao “Jornal das Dez” da GloboNews?

Algumas coisas estão fora de ordem. Garota do Tempo não tem que se achar celebridade! Cronista de música que entende do assunto não tem que se render a um Falha Nossa. Entrevistador tem que cutucar e não bajular o entrevistado. A Globo tem que sair de cima do muro e assumir que está copiando o sensacionalismo e as artimanhas que sempre criticou em suas concorrentes. Ou retoma o trilho ou acabará vendo esquecido o seu mundialmente famoso Padrão Globo de Qualidade.


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