domingo, 26 de julho de 2015

“Além do Tempo”: Novela de época supera expectativas com texto primoroso, interpretações impecáveis e padrão de qualidade que valoriza o conjunto da obra



Há duas semanas no ar, “Além do Tempo”, novela das seis da Rede Globo, vem mostrando a cada capítulo um esmero tão grande que a expectativa sobre o que virá na cena seguinte se repete desde sua estreia, no dia 13 desse mês. Independentemente de se tratar de uma história que, numa primeira fase, é de época, os acontecimentos se sucedem com mais agilidade do que em muitos folhetins modernos nos quais as mesmas situações se repetem exaustivamente. Na novela de autoria de Elizabeth Jihn, a soma dos fatores só altera o produto para melhor, afinal, trata-se de um produto em que a entrega de cada ator a seu personagem é sentida pelo telespectador de forma tocante; a pesquisa refinada que envolve direção de arte, fotografia, cenografia, figurino e caracterização é percebida nos mínimos detalhes, e o conjunto é valorizado pelo trabalho sensível da direção geral que tem à frente Pedro Vasconcellos e núcleo de Rogério Gomes.

O enredo, que traz nuances relacionadas ao espiritismo, poderia ser considerado pueril, não estivesse recebendo um alto padrão de qualidade: é a história de um amor impossível entre uma jovem pobre, Lívia (Alinne Moraes), e o nobre Felipe (Rafael Cardoso), sobrinho-neto da poderosa Condessa Vitória (Irene Ravache) e noivo de Melissa (Paolla Oliveira), uma megera e ambiciosa alpinista social da época. O grande segredo está no fato de Lívia ser a neta bastarda da Condessa, que nem sabe da existência da moça e nutre um ódio mortal pela ex-nora, Emília (Ana Beatriz Nogueira). Em uma segunda fase, um século à frente, os personagens voltarão à vida reencarnados nos tempos atuais, mas com mudanças em suas personalidades e condições social.

Quer dizer, isso é o inicialmente previsto já que mudanças já começaram a serem feitas atendendo a aceitação do público traduzida pela boa audiência. A mais significante foi o fato de Emília, em mais uma interpretação impecável de Ana Beatriz Nogueira, que morreria no capítulo 11, que foi ao ar nessa sexta-feira (4), ganhar uma sobrevida graças a um terço que lhe foi entregue por um “Anjo” no seu leito de morte. Com isso, estão garantidos novos embates entre ela e a onipotente Condessa, também brilhantemente defendida por Irene Ravache. Um duelo de titãs escrito e interpretado com um talento e uma entrega arrebatadora, digna de folhetins de outros tempos. E que faz falta nas novelas atuais.

Além das duas atrizes que respondem pelas cenas mais contundentes, vale ressaltar a atuação de Nívea Maria, como a rígida e subalterna governanta Zilda, a transformação de Luiz Carlos Vasconcelos, causando indignação como o capataz Bento, e o tom de comédia comedido de Inês Peixoto, que à frente da engraçada família Pasqualini dá um toque especial a sua Salomé. E também destacar a escolha das locações nas cidades de Bento Gonçalves, Garibaldi e São José dos Ausentes, na Serra Gaúcha, onde foram gravadas sequências belíssimas mostrando a tradicional Festa da Colheita da Uva.  
O grande desafio de todos os envolvidos na realização dessa novela será realmente no momento de fazer a passagem de tempo, sem perder todos os votos de confiança que já foram conquistados nessa primeira fase. É preciso lembrar que a nostalgia bate sempre forte em histórias que sofrem mudanças drásticas nas épocas em que são ambientadas.



sexta-feira, 24 de julho de 2015

“Vídeo Show”: Programa transformou-se numa bagunça promovida por um grupo de contratados desocupados da emissora


Nunca acreditei nessa história de “crise dos 30” para pessoas. Imagine para programas? Mas, sei lá, desde que completou três décadas no ar, há dois anos, o “Vídeo Show” parece estar cada vez mais se afundando numa total crise de perda de identidade. E os sintomas são bem visíveis. Não se trata apenas de reformulações que descaracterizaram a atração, ou de mudanças que abalaram uma estrutura construída com cuidado e profissionalismo. Trata-se de uma verdadeira bagunça promovida por um grupo de contratados da Rede Globo, identificados pela categoria “artista” que, talvez na falta de ter o que fazer ou para tentar justificar o salário por um “emprego molezinha”, resolveu se divertir diante das câmeras, sem o menor respeito ou a menor consideração pelo telespectador.

“Bem feito! Quem manda continuar assistindo!” pode ser a respostas que vem logo à mente de quem não acompanhou a evolução da televisão brasileira e de sua programação. Talvez seja o caso de muitos que estão ali, acompanhando o descompromisso dos atuais apresentadores, Otaviano Costa e Monica Iozzi, dirigidos por Boninho, aquele que parece estar fortemente empenhado em desconstruir muito do que seu pai, Boni, com a ajuda de outros nomes que fizeram história tanto na teledramaturgia quanto no entretenimento televisivos, como Walter Clark, construíram. 

Quase todo mundo deve saber que desde sua criação o “Vídeo Show” já passou por várias mudanças e teve à sua frente como apresentadores profissionais do primeiro escalão da Rede Globo como Tony Ramos, Eva Wilma, Paulo Goulart, Malu Mader, Miguel Falabella, e por aí vai. Ou seja, alterar o formato e o time da bancada não é uma novidade! Afinal, a direção geral do programa também trocou de mãos. E não tem como não citar que pela sua direção executiva passaram grandes profissionais como Paulo Ubiratan, Cacá Silveira, Maurício Sherman e o próprio Boni, entre outros.

É verdade que algumas modificações na linha editorial ao longo dos anos causaram certa estranheza, mas nada se compara ao que está acontecendo atualmente. É bobagem e perda de tempo tecer qualquer crítica a apresentadores e quem mais seja chamado a fazer parte desse circo que foi montado. Os verdadeiros responsáveis são aqueles que permitem que um programa que traz em seu DNA a memória de tudo que foi feito, de certo e de errado, na Rede Globo, de repente seja transformado num picadeiro de quinta qualidade, porque até para se reproduzir um número circense a trupe tem que ter competência e seriedade no que faz. Mesmo quando a intenção é fazer rir.

Sinceramente, acredito que Miguel Falabella não esteja assistindo ao que vai ao ar para continuar gravando esses encerramentos que têm a ver com o que o “Vídeo Show” foi um dia, mas nada tem a ver com o que esse verdadeiro monstrengo é atualmente. 

Mais "Vídeo Show" em:
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sábado, 11 de julho de 2015

“Sete Vidas”: Em quatro meses, temas contundentes e profundos foram tratados em uma novela das seis com a delicadeza e a maturidade que faltam no horário nobre


“Sete Vidas” chegou ao fim nessa sexta-feira (10) coroando a ideia manifestada nesses quase exatamente quatro meses no ar - a estreia da novela das seis da Rede Globo foi dia 9 de março - de que uma boa história não precisa ser contada tendo como foco principal a disputa entre vilões e mocinhos, nem tampouco ficar oito meses no ar para conquistar o público pela insistência. Ela precisa ser verdadeira, vivida por personagens que não se privam de sonhar, de acertar, de errar, de enfrentar, de desistir, e ter argumentos convincentes para o desenrolar de cada trama. Mesmo mantendo a leveza que o horário pede, a novela escrita por Lícia Manzo e Daniel Adjafre não deixou de tocar em temas sérios e muitas vezes até dramáticos, como o uso de medicamentos para emagrecer, como fez Elisa para não perder trabalhos como modelo; polêmicos como a homossexualidade feminina de Esther e masculina de Eriberto e Renan; o vício em jogos de Durval, que, infelizmente não conseguiu se curar, prova de que não é tão fácil assim, e o mote principal da trama: a doação de sêmen que pode interferir no modelo familiar tradicional. Sem recorrer ao dramalhão ou ao sensacionalismo para criar polêmica, tudo foi tratado com delicadeza e consistência. Levou os mais sensíveis às lágrimas. Mas não porque explorou a dor. Fez chorar de emoção, não importa se por alegria, tristeza ou nostalgia, mas principalmente pelas situações que são tão comuns ao dia a dia de cada um na nossa vida real. Tocou, e deu seu alerta através de um texto naturalista, de diálogos simples, sem falas discursivas ou pomposas, e com interpretações contidas, mas demonstrando claramente a intenção de cada gestual.

Valeu cada palavra escrita pelos autores, valeu cada interpretação dos atores, valeu todo cuidado da direção, produção e demais envolvidos na equipe em geral envolvida no todo. Que cena simples e contundente aquela exibida no penúltimo capítulo, na quinta-feira (9), em que Miguel entrega uma caixa de presentes a Laila, justificando cada etapa da vida da filha em que esteve ausente. E que sequências tocantes protagonizadas por Fernando Eiras e Fábio Herford, dois seres humanos se encontrando. Foi isso que mostrou o desfecho que uniu Renan e Eriberto, sem firulas, sem alardes, sem gestos feitos para provocar, sem se mostrar como um casal diferente, apenas sendo o que são: seres humanos. No fim, “Sete Vidas” mostrou que tinha mais vidas do que se supunha.

Nas semanas anteriores, a mídia, aquela que se preocupa muito mais em “dar em primeira mão” do que em ser realmente especializada e apurar a fundo e com critério antes de sair afirmando categoricamente o final da história, saiu divulgando que Lígia não voltaria com Miguel e continuaria com Vicente, enquanto Júlia deixaria Felipe para ficar com Pedro. Não vamos confundir “dar um furo” com “dar em primeira mão”. O primeiro é algo que sempre foi sonhado por todo jornalista apaixonado pela profissão, mas, antes de sua publicação, é preciso que haja convicção e seja cobrada responsabilidade para que ao invés dê uma “barrigada”. O segundo é algo de uma mídia que não se baseia em fatos reais.

Mas, nem por isso, deve ser cobrada por sua precipitação em jogar no ar qualquer tipo de informação, baseada no recurso de que depois será fácil publicar uma errata ou algo semelhante, mas disfarçado de “nova nota”. Afinal, a própria novela pode ter perdidos telespectadores que, confiando na (des)informação divulgada e não gostando de algum falso desfecho anunciado, decepcionou-se e deixou de assisti-la. Mas os autores se superaram ao justificar os desfechos escolhidos por eles.

Buscando a análise que fiz sobre a estreia de “Sete Vidas”, em março, escrevi: “(...) já mostrou em sua primeira semana que os tempos são outros e que chegou a vez de o horário das seis ganhar uma história com jeito de gente grande na Rede Globo. De autoria de Lícia Manzo e Daniel Adjafre, a novela vem mostrando a cada capítulo um texto maduro, diálogos bem elaborados sem cair no trivial das conhecidas frases de efeito e tramas bem costuradas, encerrando cada bloco de forma inteligente, deixando o famoso “gancho”, que deixa no telespectador o desejo de saber o que virá depois”.

Agora, percebo que o mais interessante é que “Sete Vidas” termina sem deixar a certeza de que acabou e que vai deixar um vazio por um tempo, logo preenchido pela sua sucessora. Não, a sensação é de que aqueles personagens vão continuar seguindo suas vidas, sim. Apenas não teremos mais uma lente focada neles para nos mostrar o desenrolar de seus dias. Poucas novelas conseguem deixar no ar essa ideia no último capítulo. Foi uma novela das seis com jeito de gente grande. Em quatro meses fez mais do que muitas não fazem nem ficando no ar por mais de oito meses em horário nobre.


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sábado, 4 de julho de 2015

“Jornal Nacional”: É preciso não transformar a luta contra qualquer tipo de preconceito em mais um factoide na busca por audiência


A Rede Globo está se aprimorando em alimentar factoides criados a favor ou contra ela própria. Primeiro foi a entrevista concedida pela presidente Dilma Rousseff ao “Programa do Jô” que, de tão chapa branca, acabou rendendo até ameaças a Jô Soares. Depois veio o episódio envolvendo Zeca Camargo e sua crônica no “Jornal das Dez” da GloboNews sobre a comoção exaltada pelas emissoras de televisão na cobertura da morte do cantor sertanejo Cristiano Araújo. E agora, o destaque dado à agressão via internet a Maria Júlia Coutinho, conhecida como Majú, a Garota do Tempo do “Jornal Nacional”, que estaria sendo vítima de injúria ou racismo nas redes sociais por internautas que, diga-se de passagem, possuem perfis fakes.

Começando pelo fato mais recente: Majú, aquela que já era conhecida por tal apelido há anos, desde quando apresentava o telejornal regional de São Paulo, mas gostou, sim, de pegar carona no fato de todos acharem que foi Willian Bonner quem lhe deu tal alcunha quando ela foi para o horário nobre do telejornal da casa. Sem dúvida alguma, o discurso de Maria Júlia ao vivo no “JN” dessa sexta-feira (3) para se defender das agressões de cunho racista que sofreu foi elegante e conciso. Tocou fundo na alma de quem assistia e que também condena qualquer tipo de preconceito.

Agora, diante do ocorrido, é preciso avaliar se a reação de internautas - que, vale reforçar, a maioria era de perfis falsos - realmente teve a ver apenas com o fato de Maria Júlia ser negra. Outra jornalista em seu lugar, sendo loira, ruiva ou qualquer outra cor de cabelo ou de outra raça, gorda ou magra, alta ou baixa, não poderia sofrer agressões semelhantes se fosse colocada, como Maria Júlia foi, num pedestal erguido pelo editor-chefe e apresentador-mor do “JN”, Sr. Willian Bonner? Será que a jornalista não incomodou também por ter chegado “chegando”, numa postura toda própria, um tanto quanto altiva, e que teve uma receptividade da bancada do “JN” um tanto quanto efusiva demais para um telejornal sério?

Bonner está tão extasiado que continua propagando nas redes sociais uma campanha utilizando a hastag SomosTodosMajú, plagiando a frase Je Suis Charlie, que invadiu a internet mundial em janeiro deste ano após um ataque terrorista que deixou vários mortos em Paris na redação da Charlie Hebdo, revista semanal francesa famosa por fazer charges e críticas ácidas ao islamismo e outras religiões. A comparação me parece um tanto exagerada. O jornalista, que se auto-intitula “Tio” no mundo virtual, extrapola mais uma vez.

Soou e continua soando tudo meio estranho. Mais ainda para alguns da imprensa que, alguns dias após a estreia de Maria Júlia, receberam um e-mail com sugestão de “pauta” para entrevistar a própria. Estranho o fato de uma jornalista que estava aparecendo há tão pouco tempo em rede nacional já ter uma assessoria de imprensa própria. Estranha também é essa exaltação a Majú, que mais parece uma armação na busca por audiência, uma vez que, sabe-se, o ibope não tem sido muito favorável àquele que já foi o mais tradicional telejornal da TV brasileira.

Sobre a crônica de Zeca Camargo no “Jornal das Dez” da GloboNews, não sei nem por que virou motivo de discussão popular nas redes sociais. Será que os fãs do cantor sertanejo estavam assistindo ao telejornal de uma TV por assinatura às 22h? E o que os telespectadores de TV a cabo que, ao que parece, correram para as redes sociais esbravejar, faziam antes quando não engrossavam a legião de fãs do cantor? É tudo muito doido! Ele tinha fãs que não estavam nas redes. Aí, de repente, aparece um monte de fãs nas redes. É muita gente querendo aparecer. O Zeca disse tudo que muitos queriam dizer e tinham vergonha. E muitas de suas palavras foram distorcidas. Não sei por que ele foi se justificar no “Video Show”. O público do “Vídeo Show”, da Globo, é o mesmo que assiste ao “Jornal das Dez” da GloboNews?

Algumas coisas estão fora de ordem. Garota do Tempo não tem que se achar celebridade! Cronista de música que entende do assunto não tem que se render a um Falha Nossa. Entrevistador tem que cutucar e não bajular o entrevistado. A Globo tem que sair de cima do muro e assumir que está copiando o sensacionalismo e as artimanhas que sempre criticou em suas concorrentes. Ou retoma o trilho ou acabará vendo esquecido o seu mundialmente famoso Padrão Globo de Qualidade.


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