quarta-feira, 24 de setembro de 2014

“Sexo E As Negas”: Miguel Falabella mais uma vez se supera ao criar um seriado em que cada um pode olhar para o próprio umbigo ou se sentir excluído do resto



Miguel Falabella parece um poço sem fundo de inspiração, criatividade e uma capacidade peculiar de retratar com um extremo bom humor e veracidade o cotidiano de pessoas de classes menos favorecidas. Tanto que o bordão “Eu odeio pobre” que Caco Antibes, seu personagem em “Sai de Baixo”, repetia no programa de humor da Rede Globo que foi ao ar durante décadas, nunca chegou a ofender ninguém. Por que havia ali uma verdade que muitos desconheciam. Como o detalhe da tia que colocava pano de prato úmido sobre os sanduíches de patê que seriam levados para a praia no dia seguinte. Sem falar nos famosos cajuzinhos das festas de aniversário e casamento. Miguel sabe descrever com riqueza de detalhes a realidade de pessoas menos favorecidas, usando de um deboche que não ofende, não desmerece, apenas faz a realidade mais leve, mais divertida.

Em “Sexo E As Negas”, seriado semanal que vem sendo exibido nas noites de terça-feira desde o dia 16, Miguel só vem reafirmar um estilo peculiar que se consolidou com “Pé Na Cova”. Aquele que poderia causar estranheza pelo tema fúnebre, mas tornou-se um dos melhores humorísticos da emissora, apostando em um elenco formado em sua maioria por atores poucos conhecidos do grande público. Lembrando sempre que a presença de Marília Pêra fez toda a diferença.

Voltando a “Sexo E As Negas”, Miguel nada mais está fazendo do que voltar ao subúrbio carioca. Se antes era o Irajá, agora é Cordovil. Se antes o ambiente festivo principal era uma funerária, agora são as quadras de baile funk e as festividades na laje. E, como anteriormente, o autor não deixa de usar sua ironia nem tão leve assim, mas muito coerente para retratar a realidade que muitos vivem.

A história gira em torno de quatro mulheres negras da comunidade, todas solteiras, com seus problemas pessoais e peculiares, em busca de um companheiro, interpretadas por Karin Hils, Corina Sabbas, Lilian Valeska e Maria Bia. Claudia Jimenez faz a amiga mor do quarteto.  Alessandra Maestrini faz uma gaúcha de sotaque super carregado e atitudes exageradas. Será que os gaúchos também vão ter direito a se rebelar por esse estereótipo bem mais forçado do que as situações que as negras vivem, retratadas no seriado? Acho que não. Acho que é o caso de cada um olhar o próprio umbigo e aprender a rir de si mesmo.

Ou, chorar, por não se identificar com ninguém.