Miguel Falabella parece um poço sem fundo de
inspiração, criatividade e uma capacidade peculiar de retratar com um extremo
bom humor e veracidade o cotidiano de pessoas de classes menos favorecidas.
Tanto que o bordão “Eu odeio pobre” que Caco Antibes, seu personagem em “Sai de
Baixo”, repetia no programa de humor da Rede Globo que foi ao ar durante
décadas, nunca chegou a ofender ninguém. Por que havia ali uma verdade que
muitos desconheciam. Como o detalhe da tia que colocava pano de prato úmido
sobre os sanduíches de patê que seriam levados para a praia no dia seguinte.
Sem falar nos famosos cajuzinhos das festas de aniversário e casamento. Miguel
sabe descrever com riqueza de detalhes a realidade de pessoas menos favorecidas,
usando de um deboche que não ofende, não desmerece, apenas faz a realidade mais
leve, mais divertida.
Em “Sexo E As Negas”, seriado semanal que vem sendo
exibido nas noites de terça-feira desde o dia 16, Miguel só vem reafirmar um
estilo peculiar que se consolidou com “Pé Na Cova”. Aquele que poderia causar
estranheza pelo tema fúnebre, mas tornou-se um dos melhores humorísticos da emissora,
apostando em um elenco formado em sua maioria por atores poucos conhecidos do
grande público. Lembrando sempre que a presença de Marília Pêra fez toda a
diferença.
Voltando a “Sexo E As Negas”, Miguel nada mais está
fazendo do que voltar ao subúrbio carioca. Se antes era o Irajá, agora é Cordovil.
Se antes o ambiente festivo principal era uma funerária, agora são as quadras
de baile funk e as festividades na laje. E, como anteriormente, o autor não
deixa de usar sua ironia nem tão leve assim, mas muito coerente para retratar a
realidade que muitos vivem.
A história gira em torno de quatro mulheres negras
da comunidade, todas solteiras, com seus problemas pessoais e peculiares, em
busca de um companheiro, interpretadas por Karin Hils, Corina Sabbas, Lilian
Valeska e Maria Bia. Claudia Jimenez faz a amiga mor do quarteto. Alessandra Maestrini faz uma gaúcha de sotaque
super carregado e atitudes exageradas. Será que os gaúchos também vão ter
direito a se rebelar por esse estereótipo bem mais forçado do que as situações
que as negras vivem, retratadas no seriado? Acho que não. Acho que é o caso de
cada um olhar o próprio umbigo e aprender a rir de si mesmo.
Ou, chorar, por não se
identificar com ninguém.