Se há algo que não cabe mais continuar se repetindo
é aquele ranço de maniqueísmo que rotula vilões em personagens cem por cento
maus e mocinhos que de tão inocentes beiram o patético. É o que vem acontecendo
em “Alto Astral”. O problema maior não é nem os malvados serem tão somente
muito maus e os bons exagerarem na dose de inocência. O que incomoda, tira a
paciência da audiência, é essa sequência de situações na novela das sete da
Rede Globo em que, invariavelmente, os planos de Marcos, o vilão interpretado
por Thiago Lacerda, sempre dão certo. Enquanto Caíque, o mocinho com dons
paranormais defendido por Sérgio Guizé, já chegou ao auge da vitimização ao ser
internado em uma clínica psiquiátrica.
Tanto Thiago como Sérgio estão desempenhando muito
bem seus papéis. Mas a sensação é de que até os atores já começam a ficar pouco
à vontade com a mesmice da linha dramatúrgica da trama traçada para os
personagens pelo autor da novela, Daniel Ortiz. E entre Marcos e Caíque ainda está
Laura, a jornalista vivida por Nathalia Dill que é disputada pelos dois
meio-irmãos. A personagem, que finge ser forte mas chora mais do que mocinhas
de novelas mexicanas, está longe de ter a garra que uma protagonista deveria
mostrar.
Há dois meses no ar, a história vem se arrastando
sem um acontecimento que realmente tenha um impacto mais forte. Nem mesmo os
acidentes previstos pela “vidente” Samantha (Claudia Raia) chamam a atenção.
Para o horário, faltam mais humor e ação. Quem realmente está comendo pelas
beiradas é Débora Nascimento, sabendo tirar proveito das nuances que sua
personagem, Sueli, a secretária e amante de Marcos, que vive mergulhada na sede
de vingança, mas não escapa dos momentos de drama de consciência.