Após sete meses no ar, “Pega Pega”, novela das sete
da Rede Globo, chegou ao fim nessa segunda-feira (8) cumprindo com louvor o
compromisso assumido desde sua estreia de contar uma história ágil, com muita
ação, humor e romance. Não bastasse manter esse ritmo, o último capítulo ainda
contou com uma dose extra de emoção que foi a cena tocante entre as personagens
de Mariana Santos (Maria Pia) e Valentina
Herszage (Bebeth). De uma forma discreta, a autora Cláudia Souto fez pensar
sobre mulheres que aceitam gerar óvulos de outras apenas por amor, através de
um texto leve e sem levantar grandes debates em torno do tema. Mas fazendo os
telespectadores mais sensíveis refletirem sobre o mesmo. O próprio crime
cometido por Sabine (Irene Ravache) ao subtrair Dom (David Junior) de seus pais
ainda criança em alguns momentos comovia e quase podia ser justificado pela oportunidade de uma vida melhor proporcionada e pelo amor que
ela dedicou àquela criança. Um outro caso de maternidade/paternidade tocado
de forma igualmente discreta, foi a de Douglas (Guilherme Weber), o gerente
homossexual do hotel Carioca Palace, que foi surpreendido com a chegada de um
filho, fruto de um caso com uma mulher no passado. A relação entre os dois foi
num crescendo e mostrada com uma sensibilidade que evita qualquer tipo de
polêmica. Leveza essa que talvez encurte o caminho para se chegar ao objetivo
almejado.
A sentença dada pelo juiz interpretado por Daniel Dantas para o quarteto
de ladrões do Carioca Palace foi tão justa quanto a interpretação dada aos
personagens pelos atores Marcelo Serrado (Vitor Malagueta), João Baldisserini
(Aguinaldo), Thiago Martins (Júlio) e Nanda Costa (Sandra Helena). É bem
verdade que dos quatro, o que teve um desfecho mais inverossímil foi Aguinaldo
e Sandroca. A cena final do casal extrapolou na comédia e se perdeu em uma
pretensa licença poética. De onde o presidiário que tinha acabado de sair da
cadeia tirou dinheiro para pagar, no mesmo dia, helicóptero com faixa de pedido
de casamento e chegar todo estiloso em um porsche no Forte de Copacabana para
pedir a também ex-presidiária em casamento? Uma pena, pois os dois mereciam um
desfecho tão bem escrito quanto foi os dos outros dois da quadrilha, Júlio e
Malagueta. Mas nada que tenha tirado o mérito do final de uma novela que teve a
direção competente de Luiz Henrique Rios e um elenco afinado, com as presenças
ilustres de Marcus Caruso, Milton Gonçalves, Nicette Bruno e Ângela Vieira,
entre outros. Sem falar em Reginaldo Faria, que dessa vez, na pele de Athaíde,
não pode dar uma nova banana para o Brasil como Marco Aurélio (outro corrupto
interpretado pelo ator) fez em uma cena antológica de “Vale Tudo”, novela de
Gilberto Braga de 1988. Uma homenagem na ficção um tanto ilusória já que o que
se vê continuar acontecendo na vida real não é muito diferente do fim de
Athaíde. Três décadas depois, ele não fugiu como Marco Aurélio, mas manteve seu
bom uísque e todas as regalias que tinha em casa na prisão...
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