sexta-feira, 26 de junho de 2015

Análise sobre a cobertura da morte de Cristiano Araújo: Qual o real papel da TV nos tempos atuais? Telespectadores devem se curvar a internautas?



Se a intenção fosse escrever sobre o universo fonográfico, com certeza estaria discorrendo sobre a trajetória de Cristiano Araújo, cantor sertanejo morto em um acidente nessa quarta-feira (24). E, como tem feito a maioria que toca no assunto, estaria elaborando teorias sobre o fenômeno de um músico que levava milhares de pessoas a seus shows, tinha mais de seis milhões de seguidores nas redes sociais e não ser assim tão conhecido de uma boa parcela do público que, curiosamente, também manifestou esse desconhecimento via redes sociais. Prova de que o mundo virtual também pode estar contaminado dessas ironias do mundo real.

Como a intenção aqui é analisar o papel da televisão, não poderia deixar de levantar a questão de por que a Rede Globo se jogou de cabeça a uma busca desenfreada por audiência em um momento como esse, repetindo o padrão de outras emissoras acostumadas a explorarem a dor alheia em momentos como esse?

E o que se viu foi a emissora se perder em um festival de gafes na ânsia por faturar uma audiência que não se sabe até que ponto é tão classificada quanto a que se buscava nos áureos tempos em que o que valia mesmo era o Padrão Globo de Qualidade. Logo após a confirmação da morte do cantor, Ana Maria Braga começou a chamar para si o fato de ter sido o “Mais Você” que lançou Cristiano na TV. Feito contestado à noite por Carlos Massa, no SBT, garantindo que o sertanejo se apresentou pela primeira vez na TV no “Programa do Ratinho. Já Fátima Bernardes, ainda de manhã, no seu “Encontro”, inaugurou a sucessão de erros ao encerrar o programa dizendo que mostraria imagens em “homenagem a Cristiano Ronaldo”, trocando o nome do cantor pelo do jogador português. A imagem dela já não estava mais no ar, mas foi possível ouvir alguém corrigindo a apresentadora, que, meio atônita, afirmava: “Meu Deus, o que eu disse”?”.

Para piorar, a Globo, resolveu transformar a morte do sertanejo em um evento merecedor de quase três horas de um “Vídeo Show” especial, ao vivo, copiando programas da concorrência, como Record e Rede TV!, tão escrachados e chamados de sensacionalistas pela própria Globo. E lá no “Vídeo Show”, além de uma repórter também chamar o cantor de Cristiano Ronaldo, estava escancarada a expressão de “saco cheio” estampado na cara de seus apresentadores, Otaviano Costa e Mônica Iozzi. A única profissional a segurar a onda foi Sandra Annemberg, que se manteve a postos em São Paulo ancorando as notícias do jornalismo. Mesmo que essas informações já não trouxessem mais nada de novo e se repetissem exaustivamente a cada boletim. O mesmo se repetiu à noite no “Jornal Nacional”, que parece até ter se aproveitado do subterfúgio da comoção para fugir da responsabilidade de tratar de notícias que realmente interessam a quem busca se informar no telejornal que já foi tradição na casa.

E no dia seguinte, quinta-feira (26), no “Mais Você”, durante reportagem sobre o velório, Ana Maria Braga deu uma de Fátima Bernardes e também trocou o nome do morto: na hora de dizer que estava se despedindo de Cristiano deu o seu “Adeus” a Leonardo, sem perceber que errou de cantor sertanejo. Isso sem falar na repórter da afiliada da TV Anhanguera que entrou no mesmo matinal para falar sobre a história de um anel que Cristiano teria dado à namorada, também morta, e disse que Allana Moraes teria falado sobre o presente: “Eu quero ele porque me apaixonei por aquele anal”. Em seguida a repórter se corrigiu no ar: “Anel. Perdão, anel”. Baixa o pano!

O que importa não é se Cristiano Araújo era conhecido ou não por milhares de pessoas do mundo virtual ou do real. Afinal, tem até um jornal espanhol que está lucrando com um texto compartilhado à exaustão apenas porque teve a felicidade de ter um título criativo. Tirando o título, o texto não acrescenta nada a coisa nenhuma. Assim como essa ânsia desenfreada por audiência está levando as emissoras de televisão a seguirem juntas na falta de bom senso à qualidade nenhuma. Esse evento parece ter tentado colocar telespectadores versus internautas. E aqui é isso que considero importante ser questionado: afinal, qual o real papel da televisão em tempos de downloads?


terça-feira, 23 de junho de 2015

Xuxa Meneghel x Tom Cavalcante: Rede Globo e Rede Record disputam audiência com mais do mesmo dos artistas de sempre


Uma disputa tão surreal quanto inssonssa se deu nesse domingo (21) entre Rede Globo e Rede Record. A primeira, com o “Domingão do Faustão” anunciando num improviso sem surpresa a volta de Tom Cavalcante para o casting da emissora na qual ele atuou durante onze anos, saiu para ir para a Record, onde ficou sete, e nos últimos quatro estava fora do ar. A segunda, com o “Hora do Faro” apresentando uma entrevista há dias já anunciada com Xuxa Meneghel, nova contratada da emissora na qual ela nunca atuou, mas resolveu arriscar investir e recomeçar uma nova etapa em sua carreira após 29 anos de Globo. Era evidente que a Rainha dos Baixinhos levaria a melhor, mesmo que a situação fosse invertida. A trajetória dos dois tem lá seus altos e baixos, críticas e elogios, como a de qualquer artista. De qualquer pessoa. Mas, sem dúvida, não dá nem para comparar a apresentação da chegada de Xuxa à Record à recepção feita para a volta de Tom à Globo.

Não foi à toa que, em termos de audiência, o programa de Rodrigo Faro ficou vários minutos à frente do de Fausto Silva. Xuxa pode não ter revelado nada de realmente inédito, mas Tom revivendo pela milionésima vez seus eternos tempos de João Canabrava foi pior do que ressaca do dia seguinte. Rodrigo Faro poderia ter valorizado muito mais o seu programa e até mesmo acrescentado pontos para si próprio se tivesse deixado de lado aquele clima exagerado de tiete nervoso e se posicionado mais como o apresentador profissional que é. Ficou over! Parece viver um eterno “dança gatinho”. Precisa aproveitar melhor as oportunidades que o destino e a emissora estão lhe dando.

Um ponto que ficou claro e pesou na entrevista de Xuxa foi sua certeza de que ela não se acha pronta para chegar agradando apenas por repetir o que sempre fez. Pelo contrário, ela quer se reinventar: “Durante três, quatro anos, eu não estava feliz com o que o que eu estava fazendo”, afirmou, referindo-se aos últimos anos em que estava no ar na Globo.  E em outro trecho destacou: “Minha vontade não é ser a primeira, mas ser a única”. Frases que pontuaram sua certeza de que não está mais na emissora considerada a “campeã de audiência”.

Em um momento, porém, Xuxa pisou na bola. Foi ao dizer que às vezes fala errado porque nasceu no Rio Grande do Sul. Como assim? Desde quando o estado de origem justifica falar errado?  A falha tanto pode acontecer com pessoas vindas de qualquer lugar que o próprio Rodrigo Faro, paulistano, largou um “Os pelo”, corrigido por ela própria.  Melhor procurar outra desculpa. Ou, melhor ainda, corrigir sem buscar justificativas errôneas.
Agora é esperar a estreia de ambos em suas novas casas.






sexta-feira, 19 de junho de 2015

“Sete Vidas”: Laila revoluciona o conceito de mocinha e vilã ao disparar sua metralhadora de palavras verdadeiras para todos os lados


Uma das características mais marcantes na construção das personagens de “Sete Vidas”, novela das seis da Rede Globo, é o traço de humanidade que há em cada um, ora levando para o lado mais coerente e correto, ora jogando para a versão mais errada, insegura e até mesmo inaceitável, e outras vezes simplesmente deixando tudo se misturar numa forma tresloucada de ser que não dá vazão nem para ser considerada definitivamente certa ou errada. É nessa última categoria que está Laila, personagem de Maria Eduarda de Carvalho, que por trás da imagem de irreverente e irresponsável não escolhe a melhor hora ou lugar para disparar sua metralhadora de palavras que na maioria das vezes está munida de verdades, as quais seus alvos não querem ou não estão esperando ouvir. E assim ela vai demolindo aos poucos a hipocrisia que enverniza tanto a imagem de mocinhos e mocinhas quanto a daqueles vistos como bandidos.

Nessa semana, Laila teve um de seus textos mais contundentes ao alertar o confuso Pedro (Jayme Matarazzo) de que seu comportamento estava sendo um plágio das atitudes de seu pai biológico, Miguel (Domingos Montangner), tão criticadas por ele próprio. Em pleno jantar em que todos os irmãos estavam reunidos, todos se calaram diante da verdade dita pela jovem rebelde. Suas teorias, na verdade, são muito mais práticas. E dá para dizer até que suas opiniões atingem resultados muito mais eficazes, rápidos e descompromissados do que as teorias da terapeuta da história, Isabel (Mariana Lima).

Percebe-se que até nas atitudes mais positivas Laila é mal compreendida. Como quando ajudou o irmão adolescente Bernardo (Guilherme Lobo) a desmascarar a farsa do salafrário namorado de sua mãe, Durval (Cláudio Jaborandy), ou quando jogou inúmeras vezes na cara do irmão gêmeo, Luís (Thiago Rodrigues), sua incapacidade de reconhecer que vivia um casamento de fachada com a mulher. É perceptível também ver o quanto ela tenta mostrar que não está nem aí para o pai biológico, embora no fundo suas reações revelem uma mágoa por ter aquela figura masculina tão ausente em sua vida. Isso fica evidente quando insinua para sua mãe adotiva, Esther (Regina Duarte), que ela não tem experiência de casal, já que tinha por companheira outra mulher. Nunca se posicionou contra a relação homo afetiva das duas mães e, talvez por isso, essas explosões aconteçam quando a própria Esther exagera colocando-se como dona da verdade ao dar “conselhos” para a filha. As duas têm gênios parecidos, quase iguais.

Em alguns momentos ela também extrapolou. Como quando com a desculpa de ser livre envolveu-se com o noivo de uma cliente do bufê onde trabalhava como Dj, por conta dessa aventura causou o cancelamento do casamento dos noivos e, consequentemente, perdeu o emprego. Impulsiva ao extremo, beijou Vicente (Ângelo Antônio) em uma noite em que sua função era de ser babá do enteado do músico casado com Lígia (Débora Bloch). Mas, até aí ela pode se valer da máxima que diz que “quando um não quer dois não brigam”. Ou, no caso, “não beijam”. Mais uma vez a fraqueza do outro serve como sustento às ousadias desenfreadas dela. O caso mais questionável foi quando providenciou uma identidade falsa para Bernardo conseguir um emprego que exigia que o candidato fosse maior de idade. A intenção podia ser boa, mas a prática, criminosa.

Mas Laila aparece como um respiro, mesmo que seja meio torpe, no meio de tanta gente problemática reunida. Isso porque ela está longe de ser o tipo de mulher que cogite por um segundo ir a um lugar, ou permanecer em um lugar onde saiba que não vai se sentir fazendo parte daquela tribo. Seja lá qual tribo for. Se Laila foi criada para ser a ovelha negra da “família”, na verdade a personagem transformou-se quase em um alter ego dos seus meios-irmãos na história. E vamos combinar que Maria Eduarda caiu como uma luva nessa personagem inteligente, perspicaz, que circula por qualquer ambiente sem a menor sensação de desconforto. Quiçá ela não seja o alter ego de algum dos autores da novela escrita por Lícia Manzo e Daniel Adjafre, com colaboração de Cecília Giannetti, Dora Castelar, Marta Góes e Rodrigo Castilho...

Vale lembrar que alguns autores já assumiram a paternidade de seus “Grilos Falantes” em novelas que escreveram. Como aconteceu em “Belíssima”, quando Silvio de Abreu admitiu que o romântico Cemil, interpretado por Leopoldo Pacheco, era seu alter ego. Já Aguinaldo Silva não deixou dúvidas de que o seu em “Império” era o blogueiro do mal Téo, personagem de Paulo Betti. Enquanto Carlos Lombardi contou que o seu alter ego malvado da novela “Pecado Mortal”, na Record, era o policial Picasso, vivido por Vitor Hugo.



Mais "Sete Vidas" em:
http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2015/03/sete-vidas-com-texto-e-direcao.html

quinta-feira, 18 de junho de 2015

“Cozinha Sob Pressão”: Edição ainda não atingiu o ponto de harmonizar conteúdo com o cardápio esperado pelo público que quer saborear um reality realmente de culinária


Está faltando mais cozinha e também mais pressão nessa segunda temporada de “Cozinha Sob Pressão”, versão brasileira do reality show britânico “Hell’s Kitchen”, que o SBT está exibindo nas noites de sábado. No Reino Unido, a competição culinária teve diferentes formatos e chefs, sendo que o principal e mais marcante, por seu carisma e rigor, foi o chef Gordon Ramsay. Por aqui, Carlos Bertolazzi se mantém no posto de chef desde a primeira temporada, mas está longe de ter a performance de Ramsay à frente dos participantes. Em alguns momentos Bertolazzi chega até ser muito bonzinho e caridoso no excesso de elogios. “Os pratos estão perfeitos!”, grita ele. Tipo de exaltação que não combina com esse tipo de competição, que reúne apenas cozinheiros amadores. Até para profissionais a perfeição não está ao alcance de todos.

A disputa chegou à sua fase decisiva, dos 16 concorrentes da estreia restaram sete, e desde o início ficou visível que o nível dos atuais está bem aquém daqueles da primeira temporada. Tanto em termos de desenvoltura com as panelas quanto se levando em conta a história pessoal e profissional de cada um. Mesmo assim, os realizadores pecam em destinar tempos tão longos a chororôs e depoimentos individuais dos participantes que em nada acrescentam nem interessam ao público desse tipo de atração. O que está literalmente desandando a receita é a edição, que certamente segue uma orientação da direção, que não conversa muito bem com a proposta de apresentar uma disputa que, como o nome diz, deve ser acirrada e sem fugir do seu ringue original, que é a cozinha. As provas se repetem, sem grandes inovações. E pouco se vê realmente da preparação dos pratos. Que é o que dá água na boca da audiência.  Sem falar na locução feminina com um timbre e uma entonação de narradora de programa de fofocas sobre celebridades. Bem deselegante!

Um pecado crucial cometido, porém, é o fato de os pratos serem executados com produtos industrializados, fornecidos pelos patrocinadores. Fazer um prato gourmet com carnes congeladas ou pré-preparadas? Nem sendo um produto que paga para merecer a confiança do Tony Ramos. Daqui a pouco vem prova com mistura pronta para empanados, que não precisa nem temperar a carne na hora de fazer, como aconteceu na temporada anterior. Deprimente!

E de onde tiraram que é palatável ver seres vivos sendo abatidos na cozinha para o preparo? É uma prática que vem se repetindo nos programas desse gênero, como já se viu com rãs no “Cozinha Sob Pressão” e com camarões no “MasterChef Brasil”, da Band. Para que isso? Até parece que todo chef em seu restaurante sai por aí abatendo bois, javalis, patos, frangos. Se for para mostrar todos botando a mão no ingrediente em sua origem, então por que não os colocam também cultivando hortas, plantando árvores frutíferas, semeando grãos, debulhando trigo?



 Mais competição culinária na TV em:
http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2015/05/masterchef-brasil-competicao-culinaria.html


domingo, 14 de junho de 2015

“Verdades Secretas”: Erotismo tempera história contada com enredo bem amarrado e personagens pontuados de forma precisa


Para quem esperava que “Verdades Secretas” fosse apenas mais um desfile do tão purpurinado glamour mostrado nas passarelas, onde cada modelo parece viver um eterno dia de princesa, mesmo que seus pés estejam massacrados em calçados que, com certeza, não são de cristal, a boa notícia é que não, não estamos mais diante de uma ingênua “Top Model”, exibida lá no fim dos anos 80, começo dos 90. Walcyr Carrasco, autor da nova novela da Rede Globo que estreou na segunda-feira (8), está tocando em bolhas e feridas que podem incomodar muito quem explora de forma inescrupulosa esse “mundo cor-de-rosa” tão sonhado por meninas dos lugares menos imagináveis de qualquer ponto do universo. É claro que a generalização não cabe em qualquer caso, tanto na ficção quanto na realidade. E essa generalização não deve acontecer nem de um lado, nem do outro. Dizer que nada do que está ali acontece é tão mentiroso quanto dizer que tudo que está ali corresponde à realidade de todas as agências de modelo.

Em sua primeira semana no ar o que se viu foi que tanto o autor-mentor quanto o diretor de núcleo e geral, Mauro Mendonça Filho, utilizaram-se com maestria da fita métrica ao dosar o que explorar em cada capítulo. Ficou claro que a protagonista desse enredo todo se chama Luxúria. E aí está o ponto positivo no conjunto: o erotismo não se sobrepõe à história, que está sendo contada no tempo certo, sem pressa nem atropelos, com enredo compreensível e personagens pontuando suas presenças de forma clara e precisa.

A trama gira em torno de Arlete/Angel, jovem do interior que sonha ser modelo e, para salvar a família que está prestes a perder o apartamento onde mora, aceita fazer programas com clientes. E seu primeiro cliente é Alex, um poderoso empresário que fica obcecado pela jovem. O elenco traz nomes que dispensam comentários: Drica Moraes reina absoluta no papel de Carolina, a mãe da new face Angel, interpretada pela estreante Camila Queiroz, que namora com as câmeras de TV tanto quanto com as fotográficas. Só pecou nas cenas em que caminhou como modelo pelas ruas de São Paulo mesmo antes de ter sido preparada por Visky para as passarelas. Aliás, Rainer Cadete como Visky é um caso à parte. Quem poderia imaginar que se trata do mesmo ator intérprete do sério doutor Rafael Nero, que tratava da autista Linda (Bruna Linzmeyer) em “Amor à Vida”, novela das nove exibida em 2013?

Elogiar Marieta Severo é algo tão dispensável quanto exaltar Ana Lúcia Torre e Eva Wilma. Que tríade de grandes atrizes brilhando e enriquecendo seus núcleos de forma equilibrada e independente. Reynaldo Gianecchini parece ter uma química boa em cena com atrizes mais velhas. Já mostrou isso em sua estreia em “Laços de Família”, ao contracenar com Vera Fischer. Rodrigo Lombardi causou na estreia ao aparecer nu, de costas, no capítulo da estreia. A bunda do ator foi sensação nas redes sociais. Mas ainda falta mostrar algo mais de frente e vestido. Assim como falta muito para Grazzi Massafera corresponder à expectativa criada de que ela seria a grande revelação. Até agora o máximo que fez foi aparecer dando uma gargalhada bem forçada, nem os figurantes que estavam a seu redor a acompanharam.

Enfim, “Verdades Secretas” tem mais pinta de minissérie do que de novela. Mas, já que querem dar essa nomenclatura, tudo bem. Acho apenas que para ser chamada de “novela das onze” deveria, no mínimo, ser exibida a partir das 23h. Afinal, a “classificação indicativa” estipulada pelo Ministério da Justiça não está determinando que o programa esteja liberado para maiores de 16 anos dentro desse horário?



segunda-feira, 8 de junho de 2015

“Amorteamo”: Expressionismo explorado em cenários e caracterização contribui para alta qualidade de melodrama sobrenatural


O sobrenatural tentando assombrar com tiradas sorrateiras de humor negro o melodrama de “Amorteamo” não chegou a dar à série, que chegou ao fim nessa sexta-feira (5) na Rede Globo, um status de “grande inovação” no gênero, mas certamente ela pode ser incluída entre mais uma proposta experimental que deu certo na TV. Embora precise rever alguns pontos, como a ideia de ir ao ar em episódios semanais. No caso, foram cinco exibidos às sextas-feiras. Com um formato em que o capítulo seguinte não inicia necessariamente a partir do final do anterior, a distância de uma semana entre um e outro quebra a sequência, deixando em quem assiste a sensação de que perdeu algo no meio do caminho.

Felizmente a internet está aí para nos oferecer a opção de esperar para assistir ao conjunto da obra online sem intervalos. Foi o que fiz. E o que vi foi uma reunião perfeita entre seus criadores: está ali o timing de comédia do cotidiano de Cláudio Paiva associado à pegada “sandália de couro nordestina” de Guel Arraes e ambos bebendo com vontade na teatralidade de Newton Moreno. Cada um pontuando com seu estilo próprio o mosaico de uma história que se passa no Recife do século XX, onde o amor e a morte, mesmo estando separados, acabam caminhando juntos graças à intervenção constante da vingança.

Tudo começa quando Arlinda (Letícia Sabatella), casada com Aragão (Jackson Antunes), é flagrada na cama com Chico (Daniel de Oliveira). O marido mata o rival com um tiro e isola a mulher no sótão e só sabe mais tarde que ela está grávida do amante, dando à luz a Gabriel (Johnny Massaro). Ao crescer, o jovem se apaixona por Lena (Arianne Botelho), que por sua vez é filha da empregada, gerada de uma relação de Aragão com a serviçal, e é obrigado pelo pai a se casar com Malvina (Marina Ruy Barbosa). Mas, ao descobrir que não é meio-irmão de Lena, Gabriel abandona a noiva no altar. E aí começa o ápice do drama. Malvina comete o suicídio, mas ressurge do mundo dos mortos, trazendo consigo outros cadáveres do cemitério da cidade, que voltam obcecados pelo desejo de se vingarem de seus algozes.

Difícil destacar no elenco quem teve maior destaque, já que é marcante o quanto todos se entregaram de corpo e alma a seus personagens. Cada um teve seu momento de protagonista em seu próprio espaço, como aconteceu com Guta Stresser e Aramis Trindade, respectivamente a fofoqueira Cândida e o atrapalhado Manuel, donos do bar da cidade. E o irretocável Tonico Pereira que, em mais um grande momento em sua longa carreira, voltou a se superar interpretando o coveiro Zé, principal elo entre os vivos e os mortos.

A influência do cinema não tentou ser escamoteada na série e foi assumidamente escancarada no figurino, que traz inspiração clara no filme “A Noiva Cadáver”, de Tim Burton, enquanto os cenários sombrios criados por Yurika Yamasaki trazem uma influência latente do expressionismo, ainda mais revigorado pela luz dramática muito bem explorada pela direção de Flávia Lacerda e Isabela Teixeira, e pelo cuidadoso trabalho de efeitos especiais feitos em computação gráfica. E a trilha sonora de João Falcão incorporou literalmente o espírito de cada cena.


O desfecho no quinto episódio, lançando mão do conhecido recurso de se traçar um paralelo entre o que já aconteceu no passado e o que está acontecendo no presente deixou no ar a sugestão de que se acontecer uma nova temporada no futuro não será uma ideia do outro mundo. O que não deixa de ser um bom presságio.