terça-feira, 6 de setembro de 2016

“Sol Nascente”: Novela atrai pelas locações paradisíacas, mas o tema central é fraco e algumas interpretações estão exageradas


Em uma semana no ar, “Sol Nascente”, nova novela das seis da Rede Globo, mostrou que sua principal pretensão é contar uma história leve, com imagens gravadas em praias paradisíacas do litoral do Rio de Janeiro e em pontos que fazem parte do roteiro cultural de São Paulo, embalada por uma trilha sonora com clima de verão. Percebe-se claramente o estilo solar marcante do novelista Walther Negrão, que já assinou “Flor do Caribe”, “Como Uma Onda” e “Tropicaliente”, entre outras no mesmo horário, e neste trabalho divide a autoria com Suzana Pires e Júlio Fischer. Após sete capítulos, no entanto, percebe-se que o trio de autores precisa dar uma turbinada na trama principal, pois uma novela não é feita apenas de belas locações, mesmo tendo a competente direção geral de Leonardo Nogueira e Marcelo Travesso.

A história de “Sol Nascente” gira em torno de dois amigos de infância pertencentes a famílias de origens diferentes, mas muito próximas: Alice (Giovanna Antonelli) foi criada pelo padrasto japonês, dentro das doutrinas orientais, enquanto Mário (Bruno Gagliasso) é neto de um típico casal de imigrantes italianos que mantêm vivos os costumes de seu país. Acontece que, tirando um flashback rápido na estreia, não houve um tempo de reconhecimento dessa amizade aos olhos do público. No mesmo primeiro capítulo Mário deixou aflorar, do nada, que está perdidamente apaixonada por Alice. Enquanto ela, mesmo sendo mais velha e mais madura, continua fazendo cara de paisagem e posando de menininha ingênua. Não convence.

Esse “drama” do cara apaixonado pela melhor amiga é pueril demais para segurar como trama principal. Mesmo sendo no horário das 18h não segura a audiência muito tempo se não tiver elementos realmente mais instigantes. Se bobear, o público vai acabar torcendo pelo mau caráter César (Rafael Cardoso), com quem Alice vai se envolver no Japão, onde os dois foram estudar por dois anos. Nas primeiras cenas em que César esbarrou com Alice a química entre os dois ficou evidente. Apesar de a situação ter lembrado uma outra cena já feita por Rafael Cardoso, quando o personagem dele em “Além do Tempo” reencontrou a personagem de Alinne Moraes em outra encarnação. Mas foi apenas por conta do contexto da cena e não da interpretação do ator.

Bruno Gagliasso, por sua vez, remeteu a outros trabalhos dele pelos seus gestuais, como na cena em que Mário surtou ao saber que Alice iria estudar no Japão e ele fez uma expressão semelhante à do psicopata que interpretou em “Dupla Identidade”. E quando chorou na cama após a partida da amiga, parecia estar em “Caminho da Índias” fazendo o frágil Tarso, que sofria de esquizofrenia. O ator precisa dar mais naturalidade a Mário, afinal, é possível se destacar e mostrar talento também fazendo uma pessoa normal. Talvez essa seja a missão mais difícil.

Exagerados também estão Ralf e Lenita, vividos por Henri Castelli e Letícia Spiller. Fica até difícil saber se o histrionismo realmente faz parte do perfil de cada um dos dois irmãos ou se os atores é que estão errando a mão no comportamento levianamente agressivo de seus personagens. Até quando foi para a cama com o “ficante” Felipe (Marcelo Faria), Lenita parecia estar fazendo uma cena de sexo selvagem na novela das onze... São atitudes desnecessárias de uma rebeldia forçada e sem causa. Talvez ela melhore quando começar a se relacionar com Vittorio, que tem recebido uma interpretação comedida e segura de Marcelo Novaes.

O destaque até agora fica para o casal Gaetano e Geppina, magistralmente interpretado por Francisco Cuoco e Aracy Balabanian. Os dois atores estão dando uma leveza e um frescor deliciosos ao nono e à nona que, após 50 anos de casados, mantêm acesa a chama da paixão. Mesmo apaixonado pela mulher, ele ainda arrisca arrastar a asa para as mocinhas, enquanto ela não tem pudores em esbravejar e fazer cenas de ciúmes, que acabam sempre em uma romântica reconciliação.

Além do clima de comédia romântica da terceira idade, Gaetano e Geppina trazem um interessante toque retrô para a novela através do tal mistério do passado que envolve a máfia siciliana e foi o real motivo deles terem migrado da Itália para o Brasil. Até aqui, o casal cinquentenário está ganhando de longe do provável casal de amigos de infância.


Mais novela das seis em:
http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2016/08/eta-mundo-bom-novela-chega-ao-fim-com.html