domingo, 30 de outubro de 2011

“Projeto Fashion”: Adriane Galisteu segue à risca sua repetitiva frase no programa: um dia está ‘in’, em outro completamente ‘out’



Ao chegar à metade da competição do “Projeto Fashion” nesse sábado (29), percebe-se que Adriane Galisteu ainda precisa ajustar algumas medidas no comando do reality show sobre moda da Band. Embora ela própria encarne a frase repetida a cada episódio para os participantes: “No mundo da moda, um dia você está in, no outro está out”. Em alguns momentos, o visual da apresentadora é de uma informalidade que beira ao desleixo e parece deslocado do ambiente fashion; em outros é exageradamente sofisticado, como se quisesse ofuscar as modelos que desfilam as criações feitas na disputa. 

Logo no episódio de estreia, dia 17 de setembro, Adriane abriu o programa usando um básico pretinho básico, cabelo preso e uma tiara na cabeça, tipo “A diarista”, em nada lembrando a elegância de Heidi Klum, que apresenta a versão americana. Mas de lá para cá ela tem conseguido acertar no visual várias vezes e também mostrado menos tensão no comando da competição. 

O formato é a versão nacional do “Project Runway”, atração que já foi indicada sete vezes ao Emmy nos Estados Unidos e na qual estilistas desconhecidos competem pela chance de ser a grande revelação da moda no país. Alexandre Herchcovit faz muito bem desde o início o papel que no original cabe a Tim Gunn. O estilista é quem dá dicas aos competidores, orientando-os a cada tarefa. Ele mostra que seu relacionamento não é só profissional, com alguns eliminados, despede-se com tristeza, revelando que cultiva amizade e admiração por eles.

O nível de criatividade e estilo dos participantes, que deixava a desejar, também vem melhorando a cada semana. Assim como os argumentos do júri, formado pelo estilista Reinaldo Lourenço e pela editora de moda Susana Barbosa. A cada semana há um terceiro jurado convidado. No começo seus comentários eram pouco consistentes e se escondiam atrás de críticas sobre cabelos e maquiagens das modelos. A primeira eliminada, a paulistana Micheline Pimenta, observou muito bem a falta de conhecimento dos jurados sobre o que acontecia nos bastidores no ateliê enquanto o desafio era cumprido. Conhecimento que os jurados do “Project Runway” tinham e usavam as informações em seus julgamentos. 

Felizmente nos últimos episódios os jurados do reality da Band resolveram dar mais atenção ao figurino, que é a verdadeira estrela da passarela e foi em cima dele que os designers ficaram dois dias trabalhando, e deixaram os cabelos e maquiagens um pouco de lado. Reinaldo Lourenço sem dúvida é o mais expert de todos. Já Susana Barbosa poderia usar menos paetês e ser menos pedante. 

O que ainda precisa ser melhor costurada é a edição. Há um excesso de repetições do que já foi ao ar. Na abertura, exibe-se sempre um resumo do que aconteceu no episódio anterior colado em um outro resumo do que vai acontecer no episódio do dia. Quando volta do break comercial, novamente se repete as últimas cenas do bloco anterior. Todos os flash-backs são alinhavados pela vinheta do programa. No fim, há mais um resumo do que acontecerá no próximo episódio. A impressão que fica é de que não há material inédito suficiente para preencher o espaço de uma hora que deve durar o programa no ar, então, enchem linguiça com repetecos. Fica chato e cansativo.

Talvez se mostrassem um pouco da convivência dos participantes fora do ateliê de costura e da passarela, como acontece na versão original, tivessem mais cenas inéditas para colocar no ar e não precisassem recorrer a tantas repetições. Fica a dica! 
 
      

sábado, 29 de outubro de 2011

“O Astro”: Remake da novela escrita por Janete Clair mostra ousadia ao alterar vários desfechos e em criar cena inspirada no realismo fantástico de Dias Gomes


Rodrigo Lombardi sem dúvida foi um discípulo exemplar do seu guru, Francisco Cuoco, ao herdar o personagem-título de “O Astro”. Ele pegou o turbante de Herculano Quintanilha, entregue pelo veterano intérprete do “primeiro astro”, e seduziu o público com talento e carisma. Ganhou até um momento extra e inédito que gerou polêmica no capítulo de quinta-feira (27), quando se transformou em um pássaro branco e saiu voando para escapar da polícia. Houve quem o comparasse a João Gibão, vivido por Juca de Oliveira em “Saramandaia”, que possuía asas, reveladas no último capítulo quando ele saiu voando na novela de Dias Gomes, exibida em 1976. Época em que o realismo fantástico também gerava opiniões controversas no público.

Terá sido uma homenagem velada – e caprichada graças aos recursos modernos da computação gráfica - ao grande novelista e marido de Janete Clair? O capricho valeu a ousadia. Até porque, se Herculano passou a novela inteira fazendo truques ilusionistas e surreais, não seria novidade se superar no ápice da história. “A gente passou por tantas transformações de 78 para cá, a tecnologia é outra, os espectadores esperam um imediatismo maior”, explicou Lombardi na manhã dessa sexta-feira no “Mais Você” em entrevista a Ana Maria Braga. Sei não, alguns espectadores podem ainda estar à espera da mesmice...

O que vale é que Herculano mereceu um final mais romântico e feliz com Amanda - numa interpretação densa e contida da atriz Carolina Ferraz - do que aquele que o bruxo teve há 33 anos. No original, Herculano (Cuoco) fugiu para um país da América Latina, onde passou a emprestar sua vidência para ajudar o governo local. Amanda (Dina Sfat) vai atrás dele, mas ao perceber que o ilusionista continua obcecado pelo poder, ela pega um táxi e vai embora: “Vamos para o aeroporto”, foi sua última fala ao taxista.

Na versão atual, ele vai para Santa Fé, capital norte-americana do Novo México, é alvo de um golpe contra o governo, mas sobrevive. E larga o poder para viver em uma ilha com Amanda e o filho do casal, a quem ensina seus truques de magia. Não fosse um remake, ficaria a dica para a continuação da história do ilusionista através de seu filho. 

Fica a impressão de que os autores, Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro, tenham realizado um desejo de Janete Clair, que não gostava de finais que não fossem felizes para o casal principal de suas tramas. Nas mais de 30 novelas que escreveu, as únicas vezes que isso aconteceu foi em “Pecado Capital” (1975), em que Carlão (Francisco Cuoco) morreu, e em “O Astro”. Em anos difíceis de censura, sabe-se lá a que pressão ela não cedeu para matar Carlão e “deportar” Herculano, já que eles eram verdadeiros anti-heróis?

O remake de “O Astro” chegou ao fim nessa sexta-feira (28) sem parar o Brasil, como aconteceu quando a versão original da novela de Janete Clair foi ao ar entre 1977 e 1978. Na época, a audiência superava a marca de 90%, pois todos queriam saber “Quem matou Salomão Hayalla?”, personagem então interpretado por Dionísio Azevedo. Hoje os tempos são outros e não há mais qualquer ineditismo em se usar o mistério “Quem matou quem” para prender o público. Tornou-se um recurso que esporadicamente vem sendo repetido por várias tramas. “O Astro” não foi a primeira a lançar mão dele. Em 1974, Bráulio Pedroso causou sensação com a novela policial “O Rebu”, em que o suspense envolvia não só quem matou, mas também quem morreu. Bem mais complexo.

Mas voltando ao remake exibido pela Globo, os autores Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro fizeram várias adaptações na história original, sem desrespeitar o trabalho de Janete Clair. É totalmente compreensível que o assassino de Salomão Hayalla (agora vivido por Daniel Filho) dessa vez não fosse Felipe (Edwin Luisi/Henri Castelli), ex amante de Clô (Tereza Rachel/Regina Duarte), viúva da vítima. Para tentar criar um certo mistério foram gravados três finais para o assassinato. E a opção que foi ao ar foi aquela em que Clô  é a assassina. Ponto para Regina Duarte. 

Regina Duarte exagerou nas caretas de Clô? Mas se assim não o fizesse, se tivesse dado a ela uma interpretação naturalista e trivial, a personagem talvez não entrasse para sua galeria. E nem seria tão citada. Ela é a nova Clô. Mesmo que não fosse a assassina. Diferentemente de Thiago Fragoso, que cumpriu seu papel direitinho, mas não tirou o posto de Tony Ramos na memória de quem foi Márcio Hayalla.  
  
Homenagem merecida foi feita a Francisco Cuoco ao longo da novela, que apareceu como Ferragus, aquele que ensina tudo sobre a arte da magia ao novo Herculano. Tão elegante que não veio roubar a cena de seu sucessor no fim da história. E em um elenco estelar, merecem destaque as brilhantes atuações de Marco Ricca, Humberto Martins, Antônio Calloni, Rosamaria Murtinho e Selma Egrei.

Desnecessário foi Márcio Garcia fazendo uma participação no último capítulo como um novo diretor do Grupo Hayalla e insinuando um possível romance com a secretária Nina, personagem de Juliana Paes. Ambos sobraram na história. Herculano nunca teve um envolvimento amoroso com Nina e nem ela teve tamanha relevância na trama que merecesse um par romântico no fim. Soou mais como sendo um golpe de mídia, para render notinhas relembrando que na novela “Caminho das Índias” o personagem de Márcio perdeu o posto de protagonista para o de Rodrigo Lombardi na disputa pelo amor de Maya (Juliana Paes). 

Mais uma vez quem ganhou a parada foi Rodrigo, que, como o astro dono da história, não só ignorou Nina como ainda nem tomou conhecimento do tal novo diretor e teve torcida para realizar seu amor com Amanda do início ao fim da novela. Como diz o ditado: Yo no creo em brujos, pero que los hay, los hay!
 



quinta-feira, 27 de outubro de 2011

“220 Volts”: Paulo Gustavo estreia em alta voltagem no Multishow com a mesma irreverência e humor inteligente que o tornaram conhecido do público no teatro


Quem já viu Paulo Gustavo nos teatros com as comédias “Hiperativo” e “Minha Mãe é Uma Peça”, pode conferir já na estreia de “220 Volts” no Multishow, terça-feira (25), que ele conseguiu uma façanha para poucos: levar personagens e situações dos palcos para o quadrado limitado das telas de TV sem perder o tom. O programa é uma mistura de stand-up, esquetes de dramaturgia e bate-papos nas ruas com anônimos para falar de diversos temas. No primeiro, o assunto foi tipos de medo, como de doenças, avião, espíritos.

Como no teatro, a estrela da vez continua sendo a personagem Dona Hermínia, inspirada em sua mãe que ele interpreta em “Minha Mãe É Uma Peça”. Ela é uma matrona de bobs enormes nos cabelos assistindo ao programa de sua casa e fazendo  críticas que poderiam ser apenas ao “220 Volts”, mas que no fundo serviriam para muitas atrações de humor atualmente no ar. “Esse menino não tem nada, não tem presença, não tem carisma, não tem cabelo. Nem bonito é. Sem contar que isso é batido, isso é a cruza de Chacrinha com Costinha, que na minha época já tinha, e esses sim eram geniais. Aí vem um garoto querendo fazer igual. Só ‘tô’ vendo porque ainda não começou a minha novela”, diz Dona Hermínia enquanto vê na TV esquetes mesclados a entrevistas nas ruas.

O ator também trouxe a Senhora dos Absurdos, personagem dele que faz sucesso em vídeos na internet e que tem opiniões completamente absurdas, fazendo jus a seu nome. De peruca loira, vestido de lamê e sentada ao lado de um lustre de pingentes de cristal, a socialite tece comentários sobre saúde, pegando o tema doenças, satirizando o sistema. Teve ainda um esquete muito engraçado sobre medo de avião, em que o ator faz um passageiro desesperado num momento de turbulência. “Cai logo, acaba logo com isso, acaba com nosso desespero”, esbraveja ele.

Esta é sua estreia como protagonista na TV, mas Paulo já fez participações em vários programas da Globo, como “Minha Nada Mole Vida”, “A Diarista”, “Faça Sua História”, “Casos e Acasos” “Por Toda Minha Vida” e na série “Divã”, em que marcou presença como o hilariante cabeleireiro Renée, mesmo papel que fez no filme homônimo.

Agora em “220 Volts” ele atua e divide o roteiro com Felipe Braz. E promete emplacar. O ator tem uma relação de intimidade com a câmera que é transmitida a quem assiste do outro lado. A forma como pede para o público não mudar de canal na hora do intervalo é suplicantemente cômica. Fica difícil querer pegar o controle remoto para zapear. Após encerrar o programa no cenário do stand-up, ele vai para o camarim conversando com o assistente de palco e revelando insegurança de amador: “Dependendo, semana que vem a gente ‘tá’ sem trabalho. Não sei se vou conseguir entreter o povo, não, porque ‘tá’ ruim”. “Cortou, diretor?”, grita, enquanto sobem os créditos. Não está ruim, não. Mas agora é aguardar se a voltagem não vai cair nos próximos 11 episódios que formam a série.






terça-feira, 25 de outubro de 2011

“Tapas e Beijos”: Fábio Assunção torna essencial sua presença no humorístico e ainda valoriza estreia de Malu Rodrigues


Em um mês, Fábio Assunção conseguiu não só tornar marcante sua presença em “Tapas e Beijos” como também vem ampliando os horizontes de seu personagem no seriado da Globo. Jorge, o dono da boate La Conga, que chegou para conquistar Sueli (Andrea Beltrão), agora ganhou uma filha. Bia, interpretada por Malu Rodrigues, entrou em cena no episódio dessa terça-feira (25) e já mostrou que vai funcionar sua dobradinha com Jorge. A atriz e cantora, pouco conhecida pelo público televisivo, mas com trabalhos reconhecidos no teatro, revelou logo nas primeiras cenas que tem talento. Resta segurar essa parada e não desafinar.

Há seis meses no ar, a série de Cláudio Paiva estrelada por Andrea Beltrão e Fernanda Torres (Fátima) tem mostrado fôlego, renovando-se a cada episódio com situações sempre originais. As duas são grandes amigas, independentes e solteiras, que dividem um apartamento e trabalham em uma loja que aluga vestidos de noivas. O maior problema de ambas é terem uma vida sentimental cheia de confusões. Fátima é amante de um homem casado, o sedutor Armane (Vladimir Brichta), e Sueli foi casada com o malandro Jurandir (Érico Brás), com quem tinha alguns flashback até a chegada de Jorge.

A direção de arte de “Tapas e Beijos” faz lembrar comédias dos anos 50. O figurino de Sueli dá a impressão de ter sido livremente inspirado no de Lucille Ball em “I Love Lucy”, trazido para os tempos atuais. A loja de noivas de Djalma (Otavio Muller), casado com Flavinha (Fernanda de Freitas), remete àqueles armarinhos de cidades do interior, mas com pose de magazine da cidade grande.     

Fábio Assunção vem surpreendendo desde quando apareceu no episódio em que mostrou que seu tempo de comédia em nada perde ao do elenco que já estava afiado. O ator, conhecido pelo estigma de galã de novelas, chegou e disse a que veio em um programa de humor. E olha que seu último grande trabalho em TV tinha sido a difícil missão de viver um drama no papel de Herivelto Martins na minissérie “Dalva e Herivelto – Uma Canção de Amor”. Depois vieram participações nos seriados “S.O.S Emergência” e “Clandestinos” e no remake da novela “Ti Ti Ti”. Mas personagem fixo ele voltou a ter agora. Conseguiu lugar na janela, mesmo pegando o trem andando, e está muito bem acompanhado tendo Andrea Beltrão como sua companheira nessa viagem.  

Já Malu é conhecida por sua atuação em musicais no teatro, como “A Noviça Rebelde”, “Sete” e “O Despertar da Primavera”. Neste último, causou polêmica ao aparecer nua e simulando uma cena de sexo, com apenas 16 anos, mas justificou depois que tinha autorização judicial para fazer a cena. Na TV, Malu fez a microssérie “O Pequeno Alquimista”, a novela “Pé na Jaca” e a minissérie “JK”. Depois de passar pelo desafio dos palcos, promete superar também o das câmeras de TV.

sábado, 22 de outubro de 2011

"Aquele Beijo": Miguel Falabella dá um divertido toque ao estilo da cubana Gloria Magadan a sua nova incursão em novelas fazendo uma adorável comédia romântica


Quinze anos após ter experimentado o gostinho do sucesso caliente de sua “Salsa & Merengue”, Miguel Falabella, de novo fazendo dobradinha com Maria Carmen Barbosa, volta a apostar na latinidade em “Aquele Beijo”, novela das 19h que estreou essa semana na Globo. E mais uma vez a dupla acerta ao apostar em uma comédia autêntica, colorida, recheada de humor, romance, intrigas e disputas.

Logo na abertura já se viu um diferencial: a narração que Miguel Falabella faz, pontuando a história com seu talento de cronista. “Muitas vezes você já terá cruzado com o grande amor de sua vida sem se dar conta de que ele estava ali, de olho em você”, narra ele enquanto são mostradas as primeiras cenas com as muitas coincidências que levam Cláudia (Giovanna Antonelli) a conhecer Vicente (Ricardo Pereira) no aeroporto. Ambos estão indo para Cartagena, na Colômbia. Ela a trabalho. Ele, tentar impedir o casamento de sua ex-namorada, Luciana (Grazzi Massafera) com outro. A bateria do celular cai e ela pede o dele emprestado. A partir daí uma série de ligações acabam fazendo com que os dois fiquem próximos. Lembra um pouco Meg Rian e Timothy Hutton em “Surpresas do Coração”. Só que no filme era ela que queria impedir o casamento do ex-noivo.

Cláudia sonha se casar na igreja, de véu e grinalda, com Rubinho, interpretado pelo estreante Victor Pecoraro, mas ele não assume nem o namoro. Solidária ao amigo de viagem, a arquiteta resolve acompanhar Vicente ao casamento da ex, para apoiá-lo. Mas na igreja é ele que tem que consolá-la. Cláudia se debulha em lágrimas ao ver a noiva realizando um sonho que para ela já parece impossível. De cara deu para perceber que Giovanna Antonelli e Ricardo Pereira têm química. Suas cenas são envolventes e romanticamente bem humoradas. Façanha que nem todo casal protagonista consegue: conquistar o público à primeira vista.

Diogo Vilela é o ladrão de cena da vez. Ele faz o nordestino Felizário, obcecado em cumprir a promessa feita no leito de morte do pai de reencontrar a irmã que mora na Paraíba. Ele não a vê há 40 anos. O ator tem dado um tom ao personagem que corresponde à máxima: seria trágico se não fosse cômico. A cena do encontro dele ao chegar à Paraíba, nesse sábado (22), foi mais um dos momentos de brilho do ator. Mal sabe Felizário que encontrou uma farsante, numa bela interpretação de Bia Nunnes assumindo a identidade da irmã dele, Damianna, que já morreu.

Marília Pêra, como Maruschka, dona de uma luxuosa loja de moda de dar inveja às Daslu, lembra muito a editora Catarina que fez em “Vida Alheia”. Mas Marília é sempre marcante, mesmo quando a personagem se repete. Herson Capri parece ser o Horácio Cortez saído da prisão de “Insensato Coração”, que aportou em “Aquele Beijo” menos mal, talvez pela lição da cadeia, mas ainda de caráter duvidoso. Ao menos a sua Natalie Lamour da vez será uma garota mais engajada, a líder comunitária Sarita, vivida por Sheron Menezes. O que não minimiza nada. “Se você quer saber o que Deus pensa do dinheiro é só ver a quem ele dá”, diz a narração após uma cena de Alberto.

No lançamento do folhetim Falabella revelou que gostaria de tê-lo batizado de “Novela “Mexicana” e não o fez porque “ninguém iria entender o porquê do nome”, explicou na época. Ah, entenderia, sim. A cenografia, os figurinos e os penteados do núcleo suburbano da Vila Caiada não deixam enganar. Os penteados de Íntima (Elizângela) e de sua filha Belezinha (Bruna Marquezine) beiram as perucas Lady. O vestido vermelho de bolas e com acentuado decote de Amália (Marina Mota) também salta fogoso na tela. E o que dizer de Bob Falcão (Sandro Christopher), que vive dos shows que faz imitando Elvis Presley? Enquanto Claudia Jimenez incorpora uma vidente charlatã que diz ter adquirido mediunidade quando sua mãezinha iria assistir a uma novela mexicana e um ônibus invadiu a casa, matando a coitada. Desde então, ela incorpora a entidade de uma criança, mexicana, que só fala em espanhol. Mas o verdadeiro médium é Bruno Garcia, brincando à vontade com o texto de Falabella. Apenas desnecessário o revirar de olhos o tempo todo.

O núcleo chique também não escapa à mexicanização. Pelo contrário, tem no seu auge a personagem de Jacqueline Laurence, Mirta, que é uma cópia de Catarina, a vilã vivida por María Rubio na novela mexicana “Cuna de Lobos”, gravada em 1986 e exibida aqui no Brasil pelo SBT em 1991. Sua marca registrada é usar um tapa-olho cuja estampa sempre combina com a do figurino que está vestindo.

Talvez de vez em quando voltar aos tempos de Gloria Magadan dê melhores resultados do que retroceder à Era dos Dinossauros, ou de tentar avançar demais nos devaneios robóticos. “Aquele Beijo” traz um frescor descompromissado no texto, que não torna os personagens em bobos alegres, coisa que estava fazendo falta. São felizes, mas com conteúdo. É preciso lembrar também que a narrativa de Falabella, que pode ser um atrativo a mais em novela, já foi usada por José Wilker na série “A Vida Como Ela É” e recentemente por Daniel Filho em “As Cariocas”. Em todo caso, este negócio mexicano está bem melhor do que o seu  “Negócio da China”.